A gestão do ministro da Economia, Paulo Guedes, é reprovada por 64% da população, mostra pesquisa do Instituto Realtime Bigdata encomendada pela Record TV. Para uma parcela ainda maior de entrevistados (68%), Guedes não tem condições de permanecer no cargo e 64% acham que ele deveria ser demitido pelo presidente Jair Bolsonaro.
O instituto ouviu mil pessoas de todas as regiões do país por telefone nesta quinta-feira (7). O levantamento tem margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos e nível de confiança de 95%. De acordo com os dados, somente 21% dos entrevistados avaliam positivamente a atuação de Guedes e 15% não souberam avaliar ou preferiram não responder.
No cotidiano, brasileiros enfrentam dificuldades com preços da gasolina chegando a R$ 7 em algumas regiões e dólar a R$ 5,51, na cotação da moeda nesta quinta-feira. Para a maioria dos entrevistados, a alta de preços de serviços básicos é culpa de Paulo Guedes — 52% o veem como culpado, 41% acreditam que a responsabilidade pela situação não é dele e 7% não sabem ou não responderam.
A condução da economia brasileira também é apontada como um fracasso sob a gestão de Guedes. De acordo com a pesquisa, 77% consideram que o Brasil não está no rumo certo em relação à economia (18% acham que sim e 5% não sabem ou não responderam).
Diante do cenário econômico e da crise gerada pela divulgação de que o ministro tem uma offshore no paraíso fiscal das Ilhas Virgens Britânicas, no Caribe, que lhe proporcionou ganhos de mais de R$ 16 milhões com a desvalorização do real frente ao dólar (ou R$ 14 mil a cada dia de governo), 68% dos entrevistados avaliam que Guedes não tem condições de continuar no comando do Ministério da Economia. Os que avaliaram que sim somaram 22% dos entrevistados e 10% não sabem ou não responderam.
Demissão
O presidente Jair Bolsonaro deveria demitir Guedes, na avaliação de 64% das pessoas ouvidas pelo instituto (25% acham que não e 11% não sabem ou não responderam). Nos bastidores do Palácio do Planalto, cresceu a pressão política para que o presidente substitua o ministro, que é visto também como um dificultador da relação do governo com o Congresso Nacional (veja vídeo acima).
A avaliação negativa de Guedes à frente da economia brasileira ocorre em um cenário em que a inflação está perto de passar de dois dígitos, com desemprego atingindo mais de 14 milhões de pessoas, preço dos combustíveis em alta e em que o país é fustigado por uma crise hídrica e uma elétrica. O ministro ainda enfrenta desgaste desde a revelação de que possui conta em um paraíso fiscal – o levantamento apontou que 62% dos entrevistados tinham conhecimento da offshore de Guedes.
Nesta quinta-feira (7), o desgaste foi materializado no Supremo Tribunal Federal, que recebeu um pedido de impeachment do ministro, protocolado por um grupo que reúne mais de 200 organizações. A representação elenca como crimes de Guedes “não prever no Orçamento de 2021 despesas para o enfrentamento da Covid-19, suspender o auxílio emergencial no acirramento da pandemia e fomentar a pobreza no país”.
Em relação ao caso da offshore, o ministro terá de se explicar no plenário da Câmara dos Deputados (veja vídeo acima). Os parlamentares aprovaram, com apoio também de parte da base do governo e do centrão, a convocação para que Guedes demonstre que a situação não representou conflito de interesses.
Falta de estratégia
A gestão de Guedes tem sido marcada pela falta de estratégia para resolver os problemas do país, avalia o economista Newton Marques. O ministro, avalia o especialista, não conseguiu apresentar estratégias para as questões mais importantes, como a gestão durante a pandemia e o controle da inflação.
“O mundo mudou com a pandemia e houve pressão nas commodities, sim, mas o governo não fez nada. Poderia fazer estoque regulador, por exemplo. Isso dificultou o controle. O mundo todo tem problemas, mas os governos têm estratégias na economia. O nosso não tem”, diz Marques.
Ele também critica a falta de ação de Guedes em relação à população mais vulnerável num momento de instabilidade. “Qual a preocupação em relação aos pobres? Quem sofre mais nessa situação são os pobres, que estão comendo osso ou não estão comendo nada. Houve o auxílio emergencial e depois você vê que não tem proposta, não tem alternativa”, acrescenta.