O petista não participou do evento por estar em viagem a Pernambuco. É a sexta vez que ele disputará a Presidência, agora com Geraldo Alckmin (PSB) de vice.
Por Bárbara Muniz Vieira, g1 SP — São Paulo
Integrantes da Executiva Nacional do PT e dos partidos aliados participam da convenção nacional do partido nesta quinta-feira (21), em São Paulo. — Foto: Reprodução/TV Globo
O PT e a federação partidária Brasil da Esperança – formada por PT, PC do B e PV – oficializaram a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (SP) ao Palácio do Planalto na manhã desta quinta-feira (21), em um hotel no Centro da capital paulista. O petista não participou do evento por estar em viagem a Pernambuco.
Lula, que vai disputar a Presidência pela sexta vez, será o primeiro candidato de uma federação partidária. A modalidade de aliança, criada em 2021, consiste na união de dois ou mais partidos que deverão atuar como se fossem um só por pelo menos quatro anos.
Outros partidos que compõem a federação partidária Brasil da Esperança também farão convenções. Após os encontros, todos se reunirão para avalizar as decisões tomadas.
Ritual do anúncio
O evento começou por volta das 10h10 em uma pequena sala do hotel, sem grande divulgação por parte do partido. Membros da Executiva Nacional da legenda participaram do encontro a portas fechadas.
Após a convenção do PT, iniciou-se a reunião na convenção nacional com a presença dos partidos PCdoB e PV, que vão apoiar a chapa nas eleições. Por volta de 11h30, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, permitiu a entrada da imprensa e anunciou oficialmente a candidatura de Lula e Alckmin.
“”A primeira deliberação homologada é a indicação da candidatura à presidência de Luís Inácio Lula da Silva à presidência e de vice-presidência de Geraldo Alckmin. A segunda deliberação é a de coligação de PSOL Rede, PV e Solidariedade. A terceira é o número do candidato à presidência da República. Número 13, Lula”, afirmou, sob aplausos.
Terminada a convenção, Gleisi voltou a afirmar durante coletiva de imprensa que o pleito de outubro “é uma eleição que traz elementos duros para a democracia brasileira, como o ódio e a violência”.
“Nós temos que combater, as forças democráticas têm que se unir para não deixar isso prosperar. Assim também como as ameaças à democracia, escalada autoritária que nós vimos nessa reunião que o Bolsonaro fez com embaixadores estrangeiros. Além de envergonhar e rebaixar o país, fala contra as nossas instituições”, disse a petista.
“[Bolsonaro] se elegeu a vida toda pela urna eletrônica, desde a década de 90. Ele e seus filhos se elegem pela urna eletrônica. Na realidade ele não tem problema com a urna, é com o voto do povo”, declarou.
Gleisi falou ainda sobre a aliança do PT no Rio de Janeiro. O partido havia fechado um acordo para apoiar Marcelo Freixo, com a condição do PSB apoiar a candidatura do petista e presidente da Alerj, André Ceciliano, ao Senado. O PSB, no entanto, quer lançar o deputado Alessandro Molon como candidato.
“A gente deve fazer uma reunião provavelmente na quarta-feira, ainda não está acertado, mas também temos os prazos legais e temos de conversar. A nossa aliança no Rio é com o PSB, mas temos de ter uma conversa séria sobre a composição da chapa. Nós tínhamos um acordo para indicar uma candidatura ao senado. E isso daria força a essa chapa, condições, musculatura. Então nós queremos ter uma discussão séria com o PSB a esse respeito.”
Segundo o calendário definido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os partidos têm até 5 de agosto para realizar convenções. Após o encontro, os partidos têm até 15 de agosto para registrar a candidatura no tribunal – último passo para a oficialização do candidato.
Convenções
Durante a convenção nacional do partido nesta quinta (21), o PT aprovou:
indicação do nome de Lula como candidato a presidente da federação;
aprovação da coligação com PSB, Solidariedade e a federação PSOL-Rede;
indicação de Geraldo Alckmin como candidato a vice-presidente da federação.
Paralelamente, o PV, que também compõe a federação Brasil da Esperança, se reune, de forma virtual, para tomar as mesmas decisões. O PC do B, outro integrante da aliança, aprovou as indicações em reunião virtual na noite da quarta (20).
As convenções são vistas por integrantes do PT como “meramente formais” e protocolares.
Integrantes da Executiva Nacional do PT e dos partidos aliados participam da convenção nacional do partido nesta quinta-feira (21), em São Paulo — Foto: Reprodução/TV Globo
Integrantes da Executiva Nacional do PT e dos partidos aliados participam da convenção nacional do partido nesta quinta-feira (21), em São Paulo — Foto: Reprodução/TV Globo
Sem participação de Lula
Com agendas em Recife (PE), o ex-presidente não estará na convenção nacional do PT. Em 2018, Lula também não participou do evento no qual o PT confirmou sua candidatura à Presidência. Na ocasião, ele estava preso após condenação em segunda instância no caso do tríplex do Guarujá (SP), mas enviou uma carta que foi lida pelo ator Sérgio Mamberti.
A sigla chegou a registrar a candidatura de Lula no TSE, mas o pedido foi indeferido pelo TSE em razão da condenação que o tornou inelegível segundo a Lei da Ficha Limpa.
Três anos depois, em 2021, uma decisão do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), anulou condenações proferidas pela Justiça Federal do Paraná no âmbito da Operação Lava Jato, com isso, o ex-presidente voltou a ser elegível.
Trajetória política
Nascido em Garanhuns (PE), Luiz Inácio Lula da Silva trabalhou, em São Paulo, como ambulante, engraxate, ajudante de tinturaria e torneiro mecânico. Aos 17 anos, em 1964, sofreu acidente de trabalho, no qual perdeu o dedo mínimo da mão esquerda.
Lula iniciou sua trajetória política no movimento sindical, em 1966, e foi eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema em 1975.
Em fevereiro de 1980, Lula participou da fundação do Partido dos Trabalhadores, o PT. No dia 19 de abril do mesmo ano, ele foi preso por 31 dias devido a sua atuação na liderança de movimentos grevistas no ABC Paulista.
Em 1982, acrescentou o apelido “Lula” ao nome original. No mesmo ano, pelo PT, candidatou-se ao governo de São Paulo e ficou em quarto lugar. Quatro anos depois, em 1986, foi eleito deputado constituinte por São Paulo, na ocasião, ele foi o parlamentar mais votado no Brasil.
Lula disputou a Presidência pela primeira vez em 1989 e foi derrotado por Fernando Collor de Mello (PRN) no segundo turno. Em 1994, ele disputou novamente e perdeu, em primeiro turno, para Fernando Henrique Cardoso (PSDB). Em 1998, Lula tentou mais uma vez a eleição presidencial e foi derrotado novamente por FHC.
Em 2002, Lula foi eleito presidente da República após disputar o segundo turno contra José Serra (PSDB). Em 2006, derrotou Geraldo Alckmin (à época, integrante do PSDB) no segundo turno e foi reeleito.
Em 2010, o ex-presidente conseguiu eleger a sua sucessora, Dilma Rousseff (PT), que chefiou duas pastas nos governos Lula: o Ministério de Minas e Energia e a Casa Civil.
Em 2014, Lula descartou disputar o Planalto e anunciou apoio à reeleição de Dilma.
Em julho de 2017, o ex-presidente foi condenado a nove anos e seis meses de prisão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá. Em abril de 2018, ele teve a prisão decretada pelo então juiz Sergio Moro e, alguns dias depois, se entregou à Polícia Federal após um ato na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Em 2021, uma decisão do ministro do Supremo, Edson Fachin, anulou as condenações e tornou Lula elegível. Na decisão, Fachin considerou que a 13ª Vara Federal de Curitiba, responsável pelos casos da Lava Jato relacionados à Petrobras, não era a instância competente para julgar Lula — para o ministro, as acusações ao ex-presidente não tinham relação direta com a Petrobras.
Em abril do mesmo ano, o plenário do Supremo confirmou a decisão e enviou os processos para a Justiça Federal do Distrito Federal.