1 – Antigamente chamavam de adesista aquele que não podia viver longe do poder, hoje chamam-no de pragmático, mas ambos são a mesma coisa, são pessoas que não conseguem desgrudar do diário oficial, das mordomias palacianas, do carro preto com motorista fardado lhes abrindo a porta de trás para eles sentarem no banco traseiro e assim por diante.
2 – Não têm a importância que imaginam ter, mas se julgam, se acham, aproveitam o cargo, por menor que seja, para ufanar seus egos, se darem a importância que normalmente não lhes dão, querem ser as pregas do Véi Quelé.
3 – Até lembrei daquele causo acontecido no Governo de João Agripino. O governador saía do Palácio pela garagem quando avistou um diretor de empresa de economia mista entrar no carro oficial e no carro seguir suntuosamente sentado no banco traseiro.
Virando-se para seu secretário Juarez Farias, Agripino comentou:
– Juarez, quando você ver alguém pomposo dessa maneira, pode ficar certo disso, o carro é mais importante do que o cargo que ocupa.
4 – Certa vez, nos meus tempos de repórter foca, iniciante no jornalismo e correndo a procura de notícias, abri a porta do chefe de gabinete do secretário da educação. O homem se encontrava estatelado na cadeira por detrás do suntuoso birô. Lia um livro.Quando viu a porta aberta e me viu, tirou os óculos e me dirigiu um olhar tão arrogante que me senti pequeno e humilhado. Saí de fininho e quase pedia desculpa ao imponente ser por ter atrapalhado a sua leitura.
5 – Tempos depois, ambos devidamente emparelhados em importâncias, eu amigo de governador e ele se achegando, tornou-se tão próximo que me brindou com melosa crônica elogiando um dos meus livros.
6 – O tempo passou, perdi a importância, governador novo em Palácio e o dito cujo devidamente encastelado numa Secretaria, eis que o encontro fazendo compras em bela loja de um shopping. Quase batemos um no outro, mas ele, mesmo mirando nos meus olhos e espiando na minha cara, fez uma curva e me ignorou como se não me conhecesse.
7 – O nome disso, como fiquei sabendo agora, é pragmatismo. Ao pragmático só interessa o que lhe dá vantagem, o que não soma para o seu bolso e sua conveniência deve ser descartado, jogado fora, vendido no ferro velho.
8 – De hoje a oito dias estarei na Senzala de Vavá da Luz comemorando, com dezenas de outras pessoas, o seu aniversário.E por insistência de Vavá, levarei meu novo livro, “Lembrar para não esquecer”, para autografa-lo a quem tiver interesse em lê-lo.
9 – Lá em Vavá acontecerá uma coisa inédita: dois velhos, idos e vividos na boemia, feitos nas tertúlias etílicas desse mundão de meu Deus, já pais de adultos e avós de netos, vão trocar. Os velhos somos nós dois, Vavá e eu. Ele me dará o livro dele e eu lhe darei meu livro novo.
10 – Olha o convite da festa, uma beleuza de Creuza:
11 – E agora lá se vão meus abraços sabadais para Tadeu Mendes Florêncio, Rubão Nóbrega, Zeca Porto, Marcio Murilo, Ricardo lucena, Venâncio Viana, Lúcio Landim, Jorge de Luna Freire, Delosmar Mendonça, Marcos Pires, Adalberto Targino, Maurilio Batista, Eduardo Carlos, Josinaldo Malaquias, Hilton Gouveia, Chico Pinto, Julio Santana, Leila Oliveira, Marcela Sitônio, Mané do Peixe, Duri Duri e Renato do Funcionários II.
12 – Durante mais de duas horas o deputado Edvaldo Motta apresentou desculpas para se livrar de um eleitora que pedia 400 reais para as despesas com a documentação necessária para seu casamento.
Motta disse que não tinha dinheiro, mas a moça não acreditou. Pediu que ela o procurasse no dia seguinte, ela então disse que não haveria mais tempo. Tinha prazo a cumprir. Insistiu tanto que o deputado apelou para o último recurso:
– Quer saber de uma coisa, minha jovem? Eu não dou não, e vou dizer porque: sou contra o casamento civil, o amor deve ser livre.