Os Jogos Olímpicos de Paris estão, oficialmente, abertos. A cerimônia, que aconteceu nesta sexta-feira, teve um formato inovador, dividida em blocos, e a mistura do desfile das delegações e apresentações artísticas. Choveu bastante durante o evento e muitos países estavam em barcos que não tinham proteção na parte superior, o que fez muitos ficarem debaixo d’água.
Pela primeira vez, a cerimônia não foi realizada dentro de um estádio, encerrando uma tradição olímpica. As delegações navegaram pelo rio Sena, e passaram por pontos tradicionais de Paris, como a catedral de Notre-Dame, o Hotel de Ville — sede da prefeitura — e o Grand Palais. Houve uma história que foi acompanhada pelos telespectadores, mas que não funcionou tão bem o tornou a festa confusa para quem estava nas arquibancadas.
O percurso teve 6km, com o começo na ponte Austerlitz e chegada em frente ao Trocadéro, na margem direita do rio Sena, do lado oposto à Torre Eiffel, onde a pira olímpica, em formato de balão, foi acesa pela dupla Teddy Riner e Marie-José Perec — os nomes foram guardados a sete chaves.
Uma gafe marcou a reta final do evento: a bandeira olímpica foi hasteada de cabeça para baixo.
Celine Dion encerrou a abertura. Foi a primeira apresentação da artista desde o cancelamento da turnê global “North American Courage”, no ano passado. A cantora canadense revelou que luta contra a Síndrome da Pessoa Rígida, condição autoimune que causa rigidez progressiva e espasmos musculares graves.
Marie-José Pérec e Teddy Riner acenderam a tocha durante cerimônia de abertura das Olimpíadas
Imagem: MOHD RASFAN / AFP
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Confusão e reclamações
Antes do início da cerimônia, houve muita confusão nos arredores do Rio Sena. Pontos de revista dos espectadores formaram grandes filas, e muitas pessoas reclamaram sobre a falta de informação prévia quanto aos ingressos e locais de onde seria possível acompanhar o evento. Alguns desistiram e retornaram às casas ou hotéis.
O formato
A cerimônia foi dividida em partes. Os desfiles dos barcos aconteceram em espécie de blocos — no primeiro, por exemplo, tiveram 18 países em cinco barcos —, e foram alternados com apresentações artísticas. Pela televisão, estes intervalos também serviram para contar novas parcelas da saga da tocha olímpica.
As delegações maiores tiveram embarcações “individuais”, como foi o caso do Brasil. Outras dividiram os barcos ou foram em transportes menores — com apenas sete atletas, o Haiti apareceu em bote próprio, por exemplo. A Grécia abriu os desfiles, obedecendo a tradição olímpica, e o restante obedeceu ao alfabeto francês.
Os atletas franceses, por serem do país-sede, fecharam. Pouco antes deles, a delegação dos Estados Unidos, uma vez que as Olimpíadas de 2028 será em Los Angeles, e da Austrália, já que Brisbane vai receber os Jogos de 2032.
Membros da delegação da Argélia jogaram rosas no Rio Sena durante a cerimônia. O ato foi uma homenagem aos argelinos vítimas de um massacre na França, com corpos sendo arremessados no Rio Sena. O massacre aconteceu durante um protesto, em 1961, por causa de um toque de recolher imposto pelo governo francês às pessoas nascidas na Argélia.
A “saga” da tocha
O ex-jogador de futebol Zidane teve destaque na cerimônia de abertura. Em um vídeo produzido para o evento, ele aparece tirando a tocha das mãos do ator Jamel Debbouze, que chega ao State de France vazio, e tenta levar ao local correto. O ex-meia ficou preso no metrô e a entregou a três crianças, mas a peça vai parar na mão de um personagem que fazia lembrar o game ‘Assassin’s Creed’.
O mascarado passou por diversos pontos e fez referências históricas: ele esteve em um teatro musical, passou pelo Museu do Louvre — onde a Monalisa foi roubada e, posteriormente, apareceu boiando no Sena — e fez homenagem aos irmãos Lumière, inventores do cinematógrafo e apontados como pais do cinema. Os minions, famosos bichinhos amarelos fazem parte do “Meu malvado favorito”, também deram o ar da graça em um dos vídeos. Pierre Coffin e Chris Renaud são os criadores dos personagens e de origem francesa.
Zidane reapareceu na reta final da cerimônia, e entregou a tocha olímpica a Rafal Nadal. O tenista espanhol entrou em um pequeno barco, e a chama passou por Serena Williams, Nadia Com?neci e Carl Lewis. Eles a entregaram a Amélie Mauresmo, que passou para Tony Parker. Atletas paralímpicos franceses também participaram do revezamento, que chegou
Shows
Houve diversos shows conforme as delegações passavam pelo Sena. Lady Gaga interpretou “Mon truc en plumes”, de Zizi Jeanmarie, canção ícone das ‘revues françaises’, nos anos 60. Mais à frente, houve uma apresentação em homenagem ao famosos Can-Can.
Marina Viotti cantou “La Carmen”, ópera clássica de Georgez Bizet. Já Aya Nakamura se apresenta com a Guarda Republicana da Pont des Arts e fez apresentação de “Pookie” e “Djadja”, um dos maiores sucessos da França. O pianista Alexandre Kantorow foi quem embalou certo momento da crimônia, e também houve lembrança ao breanking, que se tornou modalidade olímpica, com Jakub Józef Orlinski, cantor lírico e b-boy.
Uma espécie de passarela no Rio Sena teve shows da dança. Com o lema de “Unidos na diversidade”, Piche, drag queen e rapper famoso na França, expôs temas clássicos da eurodance, como “Freed from desire” e “Stereo love”, em segmento que prestou homenagem à União Europeia. Os dançarinos representaram a juventude e seus anseios. Em uma jangada “à deriva”, Juliette Armanet cantou “Imagine” e arrancou aplausos.
Homenagem a heroínas
Durante a cerimônia, houve homenagem a 10 mulheres importantes na história da França, no quinto quadro da cerimônia, batizado de “Sororidade”. O evento apresentou estátuas com figuras como Simone Veil, ex-Ministra da Saúde do país, a poetisa Christine de Pizan, a escritora Simone de Beauvoir e a revolucionária Olympe de Gouges. Além delas, Alice Milliat, Gisèle Halimi, Paulette Nardal, Jeanne Barret, Louise Michel e Alice Guy.
As estátuas surgiram sob La Marseillaise, candata na voz de Axelle Saint-Cirel, que estava com a bandeira da França no telhado do Grand Palais. O hino foi finalizado com um coro de 34 mulheres na Pont Alexander III.
Bandeira de cabeça para baixo
O mascarado levou a bandeira olímpica até o palco no Trocadero, mas a peça foi posicionada de maneira errada. Ela foi hasteada de cabeça para baixo durante a execução do hino olímpico. Após este ato, houve os discursos de Tony Estanguet, presidente do comitê organizador dos Jogos de Paris, e Thomas Bach, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI).
Participaram a distância
Os atletas do surfe também participaram da cerimônia de abertura, mas bem longe de Paris. A modalidade vai ser disputada no Taiti, e houve evento com algumas tradições locais. Tati Weston-Webb levou a bandeira do Brasil. Filipe Toledo, Gabriel Medina, João Chianca, Luana Silva e Tainá Hinckel também participaram da festa.
Demétrio Vecchioli e Alexandre Araújo Do UOL, em Paris e no Rio de Janeiro