O plenário da Câmara dos Deputados derrubou a PEC do voto impresso, pauta pessoal do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e que previa a adoção do voto impresso no Brasil.
Grande bandeira bolsonarista, a discussão encampou as acusações sem provas de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas e ameaças à realização das eleições de 2022.
O texto rejeitado na noite desta terça-feira (10) já havia sido derrubado na Comissão Especial que tratou do assunto na última semana, mas ganhou sobrevida após o presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP-AL).
No placar eletrônico da Câmara, totalizaram 229 votos “sim” a 218 “não”. Eram necessários, no mínimo, 308 votos para aprovar a matéria.
Nas últimas semanas, Bolsonaro intensificou os ataques ao processo eleitoral e ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso.
Em live, o presidente prometeu apresentar provas para sustentar as acusações de que teriam ocorrido fraude nas eleições de 2014 e 2018. Mas ele mesmo admitiu não tê-las, e utilizou vídeos de internet já desmentidos pelo TSE para alimentar as discussões.
A campanha pelo voto impresso já rendeu ao presidente da República um inquérito administrativo no TSE para apurar os ataques sem provas que ele vem fazendo ao sistema eletrônico de votação, além de se tornar investigado no inquérito das fake news em curso no Supremo Tribunal Federal (STF).
Nesta segunda, o TSE também enviou uma notícia-crime ao Supremo em que pede a apuração de eventual crime de Bolsonaro na divulgação de informações confidenciais contidas no inquérito da Polícia Federal que investiga o ataque hacker sofrido pela Corte em 2018.
DESFILE MILITAR NO MESMO DIA
Mais cedo, um desfile militar patrocinado pelas Forças Armadas reuniu cerca de 40 veículos, entre blindados, caminhões e jipes. A parada militar foi interpretada como uma tentativa de demonstração de força do presidente no momento em que aparece acuado e em baixa nas pesquisas.
A exibição dos tanques passou pela Praça dos Três Poderes e chegou até o Palácio do Planalto, onde o presidente assistia a tudo, ao lado do ministro da Defesa, general Braga Netto.
Oficialmente, o motivo do evento era marcar a entrega de um convite a Bolsonaro e a Braga Netto para que acompanhem o tradicional treinamento militar da Marinha, a Operação Formosa, na próxima segunda-feira.
Observadores políticos, porém, consideram que o presidente quis, na verdade, mostrar força no dia em que deve sofrer uma importante derrota política, já que a expectativa é de que a PEC do voto impresso seja reprovada em votação nesta terça.
Durante o desfile militar, a Marinha utilizou diversos equipamentos para demonstrar as forças terrestres da instituição. No entanto, havia apenas um tanque, o SK-105 Kürassier.
O veículo é um do 17 que a Marinha tem. O modelo foi produzido pela empresa austríaca Saurer-Werk, que operou entre 1903 e 1982, quando fechou. Os tanques que o Brasil tem passaram a ser produzidos pela companhia em 1970. Segundo a Folha de S. Paulo, os carros de combate foram incorporados em 2001.
Muitos espectadores do desfile chamaram a atenção para o fato de o tanque soltava uma fumaça, o que virou piada nas redes sociais.