Canoas (RS) — Depois de dois dias de sol, o Rio Grande do Sul voltou a registrar, nesta sexta-feira (10/5), temporais. As temperaturas em todo o estado despencaram, aumentando a preocupação do poder público com a situação das milhares de pessoas que estão morando em abrigos espalhados pelo estado. Em Canoas, na região metropolitana de Porto Alegre, uma das cidades mais castigadas pelas enchentes, as operações de busca e retirada de moradores das áreas alagadas precisou ser interrompida pela intensidade das chuvas e pelo aumento da força das correntezas, que impediram a navegação dos barcos de salvamento pelas ruas que viraram rios.
O secretário adjunto da Defesa Civil da cidade, Hassan Adami Cafruni, que participa diretamente dos trabalhos na linha de frente das operações de resgate, lamentou a virada do tempo e apontou que o momento é de cautela. “Em função da redução do nível das águas nos dois últimos dias, muitos moradores resolveram voltar para as suas casas, o que ainda não é seguro. Com as chuvas de hoje (ontem), as águas pararam de descer e as buscas precisaram ser interrompidas, não apenas em função do mau tempo, mas, principalmente, porque as correntezas ficaram muito fortes para conduzir os barcos com segurança”, disse Cafruni.
O secretário adjunto explicou que, com o aumento da força da correnteza, algumas equipes de voluntários, sem grande experiência em operações dessa magnitude, passaram por dificuldades. Barcos de apoio chegaram a naufragar após colidirem com obstáculos submersos e os socorristas precisaram ser resgatados por outras embarcações.
Durante o dia, as chuvas alternavam entre pancadas fortes e uma garoa persistente, que não deu trégua. No centro da cidade, um posto de distribuição de alimentos da prefeitura recebeu centenas de pessoas que enfrentaram o tempo chuvoso na fila para receber cestas básicas e galões de cinco litros de água.
O governo do Rio Grande do Sul atualizou a contagem de vítimas da tragédia das enchentes para 126 mortes confirmadas — uma está em investigação —, 141 desaparecidos e 756 feridos.
No total, 1,9 milhão de pessoas foram afetadas pela tragédia ambiental no estado, com 70,7 mil morando em abrigos públicos e de voluntários. Nesses abrigos, a oferta de água e comida é limitada. Dos 497 municípios gaúchos, 437 foram atingidos com mais ou menos gravidade pelos temporais da semana passada.
Segundo o biólogo e professor Paulo Jubilut, o maior perigo está relacionado às pessoas que ainda não deixaram suas casas, mas precisam ser retiradas das áreas inundadas. “A situação está instável, a água pode voltar a subir, principalmente, nas regiões mais ao sul do estado, deixando um grande alerta para as cidades ao redor da Lagoa dos Patos, como Pelotas e Rio Grande”, disse.
“Além disso, com a chuva, há risco de rompimento de barragens e desmoronamentos. É extremamente importante que as pessoas evitem as zonas de alto risco e que profissionais treinados sejam direcionados a esses locais. A queda das temperaturas que está vindo com as frentes frias também é uma grande preocupação. É preciso garantir que as pessoas estejam secas, abrigadas e que as cidades estejam sendo abastecidas com água e comida”, recomendou o biólogo.
Passarela demolida
Em Porto Alegre, a prefeitura demoliu uma passarela de pedestres no centro da cidade para permitir a passagem de caminhões e tratores por uma via de acesso emergencial, que está sendo construída sobre um aterro acima do nível das águas, para restabelecer a ligação da região central, que está isolada, com os bairros. A prefeitura apontou que a obra era necessária para abrir um corredor humanitário que permitisse o transporte de donativos e equipamentos.
“Não medimos esforços para encontrar soluções que, mesmo provisórias, vão ajudar a nossa cidade neste momento tão difícil”, disse o secretário de Obras, André Flores.
O trabalho de abertura desse corredor humanitário inclui o aterramento, com pedras e terra, de uma pista única com 300m de extensão, que será operada em sentidos alternados. A obra facilitará o atendimento de emergências e o abastecimento da cidade, que conta, apenas, com uma ligação rodoviária com o resto do estado. Segundo a prefeitura, superada a emergência das inundações, a passarela será reconstruída.
Com Correio Braziliense
(Colaboraram Fernanda Strickland e Mayara Souto)