Dallagnol usou ‘Vem pra Rua’ como instrumento para pressionar o Supremo Tribunal Federal

O procurador da República e coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato no Paraná, Deltan Dallagnol, usou os movimentos sociais Vem Pra Rua e o instituto Mude como ‘laranjas’ para pressionar politicamente a escolha do relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, após a morte do ministro Teori Zavascki, e a escolha do novo Procurador Geral da República pelo então presidente Michel Temer.

As informações são da reportagem publicada nesta segunda-feira (12) pelo site The Intercept Brasil, com base nos arquivos da Vaza Jato, como menciona a publicação. O material faz parte das conversas trocadas pelo procurador no aplicativo de mensagens Telegram e que foram obtidas por hackers e repassadas para a imprensa. Outras reportagens demonstraram Deltan Dallagnol atuando nos bastidores para tentar investigar o presidente do STF, Dias Toffoli, e interferir no cenário político da Venezuela, por exemplo.

Segundo a reportagem, dias após a morte do ministro Teori Zavascki em um acidente aéreo, no Rio de Janeiro, em 2017, Dallagnol menciona em conversa com o líder do Mude, Fabio Alex Oliveira, sua opinião de que nenhum dos possíveis sucessores de Teori, ou seja, os demais ministros da Segunda Turma do STF, não seriam bons para a relatoria. Outra integrante do grupo aponta que movimentos como o Vem Pra Rua estavam pedindo orientações sobre o que fazer.

Em 31 de janeiro, em conversa com os demais procuradores, a força-tarefa concorda em não se posicionar, mas a orientar os movimentos. A orientação de Deltan, repassada aos movimentos por outra procuradora, foi que os grupos compartilhassem em suas redes sociais o artigo do jurista Luis Flávio Gomes atacando os ministro da Segunda Turma.

Já com novo relator escolhido e Alexandre de Moraes indicado para a vaga aberta no STF, o procurador passa a instruir os movimentos sociais Vem Pra Rua e Nas Ruas sobre posições externadas por Moraes sobre a prisão de réus após condenação em segunda instância. “Temos que reunir infos de que no passado apoiava a execução após julgamento de SEGUNDO grau e passar pros movimentos baterem nisso muito”, afirma o procurador. “Mostrar que a mudança beneficia Aécio e PSDbistas do partido a que vinculado”, completou Dallagnol. Ele chegou a demandar um assessor de imprensa do Ministério Público para buscar material e repassar para os movimentos.

Em junho de 2017, quando a Associação Nacional do Procuradores da República (ANPR) entregou ao presidente Michel Temer a lista tríplice resultado da votação interna que sugere ao chefe do Poder Executivo os nomes para serem indicados ao cargo de Procurador Geral da República, Dallagnol procurou no Telegran o primeiro colocado, Nicolao Dino, irmão do governador do Maranhão, Flavio Dino (PCdoB). Ele parabenizou o colega e informou que iria orientar os movimentos sociais a fazerem campanha pela escolha dele.

“Não conta pra ng, mas vou pedir pros movimentos sociais fazerem campanha pra ser nomeado o primeiro da lista”, disse Dallagnol à Dino. E ainda perguntou se haveria “alguma reserva” à estratégia, mas Dino não se opôs. “Ok”, respondeu o primeiro lugar da lista tríplice. Temer indicou rapidamente a segunda colocada, Raquel Dodge.

A reportagem segue ainda demonstrando a atuação de Dallagnol durante a votação na Câmara do projeto de lei que ficou conhecido como 10 Medidas Contra a Corrupção. Procurado, o Instituto Mude afirmou que o contato “com o coordenador da maior operação de combate à corrupção já realizada no Brasil é natural”.

A publicação informa que o Vem Pra Rua disse que “na campanha a favor das 10 Medidas Contra a Corrupção buscou parcerias de outros movimentos, entidades e pessoas alinhadas com seus ideais, mantendo sempre sua autonomia”. Apesar disso, recusou-se a comentar o conteúdo das mensagens trocadas com procuradores da República.

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