Morreu na noite dessa segunda-feira (24) o escritor e influenciador Olavo de Carvalho, aos 74 anos. A família confirmou a informação em uma nota nas redes sociais. A causa da morte não foi divulgada. Olavo negou a ciência, diminuiu a gravidade da pandemia e da Covid-19, e chegou a chamar o coronavírus de “vírus chinês”. Olavo estava internado, em um hospital de Richmond, no Estado da Virgínia, nos Estados Unidos, após ter sido diagnosticado com a doença, ele fazia parte do grupo de risco.

O ideólogo nasceu no Interior de São Paulo e se autoproclamava professor de filosofia apesar de não ter formação acadêmica. Ele ficou conhecido por vídeos e livros que apoiavam o conservadorismo, recusavam o discurso politicamente correto e incentivavam o negacionismo científico.

Considerado ex-guru do Bolsonarismo, Olavo de Carvalho foi elogiado pelo presidente Jair Bolsonaro, que também lamentou sua morte nas redes sociais. Olavo conseguiu emplacar vários “discípulos” no primeiro-escalão do Governo Federal, como o ex-ministro da Educação Ricardo Vélez. O escritor também comprou várias brigas, com o vice-presidente Hamilton Mourão, com militares, com vários integrantes do Ministério da Educação e até mesmo com o ministro Ricardo Vélez, que ele próprio indicou. O substituto de Vélez, Abraham Weintraub também era olavista, bem como o chanceler brasileiro, Ernesto Araújo.

Nos anos 1980 chegou a escrever em grandes veículos brasileiros, como os jornais Folha de S.Paulo e O Globo. O influenciador ganhou notoriedade na recente onda conservadora, com seu canal no YouTube e venda de cursos online.

Carvalho deixa a esposa, Roxane, oito filhos e 18 netos.

Polêmicas e processos
Em outubro de 2021, a Justiça do Rio de Janeiro determinou que o ‘ex-guru’ do Presidente da República pagasse R$ 2,9 milhões a Caetano Veloso. Em novo recurso recusado, o astrólogo acusou o cantor de pedofilia. Em 16 de outubro, Olavo de Carvalho, que se tratava no Brasil de um problema de saúde, postou um vídeo confirmando que partiu para os EUA em um “voo repentino”. “Como eu vim parar aqui? Quando eu estava no hospital me ofereceram um voo repentino, que partiria em 15 minutos, e eu aceitei”, disse o guru, sem dar mais detalhes.

Dentre as teorias de Olavo, estão as conspirações de que o tabagismo não faz mal e que uma marca de refrigerantes adoça seu produto com células de fetos abortados. Ele também chegou a afirmar que a pandemia de covid-19 não existia e que “não tem um único caso confirmado da doença”.

O ideólogo era declaradamente antivacina e não apenas contra a covid-19, mas qualquer uma delas.

Uma das filhas de Olavo, Heloísa de Carvalho, lamentou nas redes sociais a morte do pai, deixou mensagens críticas ao escritor, mas também afirmou que “comemorar a morte de qualquer pessoa é assinar o atestado de total falta de humanidade”. Em uma das postagens, ela também pediu que Deus perdoasse todas as “maldades” que o pai cometeu.

Heloísa chegou a escrever um livro em coautoria com o escritor e filósofo Henry Bugalho “Meu pai, o guru do presidente”, no qual relata os anos de convivência com o ideólogo e o rompimento da relação dela com Olavo.

Rompimento com Bolsonaro
Após ser apontado como guru do presidente, há pouco mais de um ano Olavo estava rompido com Bolsonaro, isso após ter seus apoios de patrocinadores retirados graças a uma campanha massiva do Sleeping Giants Brasil contra disseminadores de Fake News e sucessivas postagens apagadas pelas redes sociais, pelo mesmo motivo. Além dos problemas de saúde que enfrentava, Olavo ainda tinha uma dívida milionária originada do processo que recebeu de Caetano Veloso, a quem acusou de pedófilo. Sem apoio do presidente, Olavo voltou-se contra Bolsonaro. Suas últimas palavras sobre Bolsonaro foram ditas em uma live no dia 20 de dezembro último, da qual participaram em silêncio os ex-ministros Ricardo Salles (Meio Ambiente), Abraham Weintraub (Educação) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores).

Problemas de saúde
Olavo já passava por problemas de saúde, em 8 de julho veio para o Brasil se tratar no Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Incor), em São Paulo. Olavo teve uma crise de angina e foi submetido a tratamento para compensação cardíaca, chegando a passar por uma cirurgia de emergência no dia 13 de julho para revisão de uma operação na bexiga realizada em maio do mesmo ano nos Estados Unidos. Após alta, ele voltou a ser hospitalizado no Incor, com quadro de insuficiência cardíaca e renal aguda e infecção sistêmica.

O escritor era portador da Doença de Lyme, uma infecção transmitida por carrapato que causa irritações na pele e sintomas semelhantes aos da gripe e também era cardiopata.