De olho na liberação do socorro emergencial aos Estados e municípios para enfrentar a pandemia do coronavírus, governadores, entre eles João Azevêdo, se reúnem com o presidente Jair Bolsonaro por videoconferência nesta quinta-feira, às 10 horas, pregando “paz” e “união” em público, mas mergulhados em desconfianças recíprocas.
O grupo concordou em deixar de lado a tensão causada pelas críticas frequentes de Bolsonaro ao distanciamento social e se ater a uma pauta para obter garantias do governo federal da liberação dos recursos, exigir ampla testagem e cobrar a promessa da entrega de respiradores e kits de equipamentos de proteção individual.
Governadores, em caráter reservado, reclamam que as reuniões com o presidente costumam ser pouco produtivas e sem resultados imediatos. Em março, em uma rodada de encontro com governadores por regiões, o destaque ficou para a discussão travada por Bolsonaro com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), um dos seus principais adversários políticos.
O novo convite do presidente foi feito sob o pretexto de discutir a sanção do projeto de socorro aos Estados e municípios e o veto ao trecho do texto que permite o aumento salarial para servidores públicos até 2021. Na semana passada, Bolsonaro disse que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), participaria do encontro, mas isso não está previsto.
O projeto foi aprovado no Senado no último dia 6 e ainda não foi sancionado por Bolsonaro. O prazo termina no próximo dia 27. O programa de socorro previsto na proposta destina R$ 60 bilhões aos Estados e municípios para compensação de perdas de receita e ações de prevenção.
Governadores concordaram com o encontro, mas afirmam haver consenso de que a responsabilidade do veto é do presidente, embora a maior parte do grupo concorde em não permitir o reajuste salarial. “A responsabilidade é dele. Vamos ouvir o que o presidente tem a dizer e falar da situação financeira dos nossos Estados”, disse um governador ao Estadão.
Para evitar novo embate, o governador do Mato Grosso, Reinaldo Azambuja (PSDB), ficou encarregado de ser o porta-voz das demandas e adotar um tom conciliador. A decisão foi tomada na reunião realizada na manhã desta quarta-feira, 20, com participação de representantes de 18 Estados.
Em coletiva nesta quarta, Doria, que não descarta adotar o lockdown (bloqueio total no estado), disse que fará uma “reunião em paz com o presidente da República” para poder “proteger a vida, obedecer a ciência e respeitar a orientação da medicina.” “A expectativa é de união contra o coronavírus”, disse ao Estadão o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), que decretou o lockdown em 17 municípios do Estado.
A fala amena dos governadores é também uma tentativa de evitar que sejam arrastados para a narrativa do presidente de que ele busca o diálogo, mas encontra resistência nos chefes dos Executivos estaduais. O receio é de que o encontro seja usado por Bolsonaro, que defende o fim da quarentena, para dividir o ônus da pandemia do novo coronavírus. A doença já registra 18.859 mortes e 291.579 casos confirmados no País.
A avaliação é de que a estratégia do presidente de atribuir aos governadores a culpa pelo caos econômico não encontrou eco na maior parte da população e agora pode tentar dividir a culpa pela escalada da covid-19 no país. Na semana passada, Bolsonaro convocou empresários a “jogar pesado” contra o governador de São Paulo para exigir a volta das atividades comerciais.
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