JORNALISMO E PICARETAGEM

EDMILSON LUCENA

O Supremo Tribunal Federal decidiu, em 2009, que é inconstitucional a exigência de diploma para o exercício do Jornalismo no Brasil. Abriu-se então a porteira para toda a sorte de picareta atuar como se jornalistas fossem. Ouço no rádio o locutor falar em “repórter”, em “reportagem”.

Vejo programa de picareta se chamar “O repórter”. Blogs de todos os cantos “vomitam reportagens” como se fossem donos da verdade e irresponsavelmente qualificando as pessoas. Leio nos jornais, o que é ainda mais grave, textos opinativos disputando terreno com Jornalismo.

Informação e opinião não podem, no meu entender profissional, disputar espaço. Os jornais de todo o mundo sempre abriram páginas para não Jornalistas expressarem suas opiniões, sejam em matérias informativas de Jornalismo puro, sejam em comentários assinados.

Quando os Jornalistas vão escrever sobre Medicina, Engenharia ou a atividade de um simples Comerciário ouvem as pessoas apropriadas e transmitem os fatos, traduzindo para a linguagem acessível ao público, aquilo que cada profissional, na sua área quis repassar.

Quando quem escreve se arvora em entender as nuances de outros segmentos e começa a expressar esses entendimentos como se fossem donos da verdade, já nem rabiscam jornalismo e geralmente chegam às vias da picaretagem.

O bom Jornalismo ouve as partes, checa as informações, procura extrair ao máximo o que há de mais próximo da verdade, uma vez que verdade absoluta não existe.

Já o picareta adora expor a sua opinião baseada no seu senso comum, no seu entendimento desviado dos fatos, geralmente voltado a interesses que lhe rendem “prestígio” e preferencialmente quantias e dinheiro para satisfazer o alto preço que pensam valer.

O preço desses é, sem dúvida, perfeitamente praticável. É pouco para os que subjugam; muito para os que acham que valem demais e demasiadamente alto para quem vale nada.

O picareta é o jornalista do “ouvi dizer”, do “alguém falou”, do “eu não acredito, mas estão dizendo” e chega ao cúmulo do “há uma fumaça no ar”. Geralmente ele é “muito bem informado”, mas apenas pela fonte que interessa aos anseios de algum “projeto”.

Ele aparece e bem, geralmente em épocas oportunas, onde há grande necessidade de rápidos convencimentos populares. Fala fácil, diz o que as pessoas querem ouvir, apela para a futrica e se soma a chamada “unanimidade burra”.

O picareta tem livre acesso aos bastidores, ouve muito bem as rodinhas, tira das gavetas toda a sorte de “documentos”, está em todas as frentes, mas especialmente atrás dos mais sorrateiros interesses para que os boatos venham à tona, que notícias circulem – corretas ou não – nos momentos mais apropriados para o seu proveito determinado.

O picareta é rato de repartições, chafurda em toda espécie de lodo, lambe botas e se curva diante de qualquer espécie de propina bolorenta.

Uma pesquisa que está na Internet – se não for mais uma picaretagem – afirma que vários setores da sociedade estão infestados de picaretas. A infestação do jornalismo está numa proporção hoje de 99,69%. Ou seja, salvam-se muito poucos para contar a verdadeira história.

O descrédito que já afetou a política, empresários, educadores, estudantes, religiosos, judiciário e outros segmentos da sociedade, chega impiedosamente na imprensa e atinge diretamente os Jornalistas.

Então, fica aqui uma reflexão para aqueles que ainda fazem e pretendem continuar a fazer um Jornalismo com letra maiúscula: Se o diploma já não vale mais nada, é inconstitucional, o Jornalista tem o seu valor intocável, basta que ele continue a zelar pelo que há de mais puro na sua profissão.

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