JORNALISMO E PICARETAGEM


EDMILSON lUCENA

Atuo no jornalismo da Paraíba há 40 anos e garanto que já vi de tudo um pouco. Mas nunca imaginei que a picaretagem conseguisse se sobrepor ao jornalismo sério e comprometido com a verdade dos fatos. Aqui, as porteiras estão escancaradas para toda a sorte de picareta atuar e vomitar reportagens, como se fossem donos da verdade e irresponsavelmente qualificando pessoas.

Há alguns que se arvoram de palmatória do mundo, posam de éticos e honestos, mas não passam de picaretas. Adoram expor sua opinião baseada no seu senso comum, no seu entendimento desviado dos fatos, geralmente voltado a interesses que lhe rendem prestígio e preferencialmente quantias em dinheiro para satisfazer o alto preço que pensam valer.

Se estão na oposição, fazem parte da folha dos partidos oposicionistas. Se na situação, dos partidos governistas. E complementam recebendo dos gabinetes de deputados e senadores, usando filhos, primos e até as esposas como laranjas. Conheço vários. E eles são muitos.

O preço desses é, sem dúvida, perfeitamente praticável. É pouco para os que subjugam; muito para os que acham que valem demais e demasiadamente alto para quem vale nada.

O picareta é o jornalista do “ouvi dizer”, do “alguém falou”, do “eu não acredito, mas estão dizendo” e chega ao cúmulo do “há uma fumaça no ar”. Geralmente ele é “muito bem informado”, mas apenas pela fonte que interessa aos anseios de algum “projeto”.

Ele aparece e bem, geralmente em épocas oportunas, onde há grande necessidade de rápidos convencimentos populares. Fala fácil, diz o que as pessoas querem ouvir, apela para a futrica e se soma a chamada “unanimidade burra”.

O picareta tem livre acesso aos bastidores, ouve muito bem as rodinhas, tira das gavetas toda a sorte de “documentos”, está em todas as frentes, mas especialmente atrás dos mais sorrateiros interesses para que os boatos venham à tona, que notícias circulem – corretas ou não – nos momentos mais apropriados para o seu proveito determinado.

O picareta é rato de repartições, chafurda em toda espécie de lodo, lambe botas e se curva diante de qualquer espécie de propina bolorenta.

A infestação do jornalismo está numa proporção hoje de 99,69%. Ou seja, salvam-se muito poucos para contar a verdadeira história.

O descrédito que já afetou a política, empresários, educadores, estudantes, religiosos, judiciário e outros segmentos da sociedade, chega impiedosamente na imprensa e atinge diretamente os Jornalistas. Uma lástima!

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