Lula pede desculpas à Argentina por grosserias de Bolsonaro e quer ‘relação de paz’


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) prometeu nesta segunda-feira (23) que vai trabalhar para que, ao final do seu mandato, as relações entre Brasil e Argentina sejam as melhores da América Latina.

A declaração foi feita na Casa Rosada, sede do governo argentino, logo após a assinatura de acordos de cooperação entre os dois países.

“Hoje é a retomada de uma relação que nunca deveria ter sido cortada. A minha presença é para dizer ao meu amigo Alberto Fernández que nós vamos reconstruir aquela relação de paz, aquela relação produtiva e avançada de dois países que nasceram para crescer, se desenvolver e gerar melhores condições de vida a seu povo”, afirmou.

Lula também aproveitou para se desculpar pelas declarações feitas por Jair Bolsonaro (PL) durante a gestão anterior.

“Peço desculpas pelo último presidente do Brasil, que trato como genocida por causa da pandemia, pelas ofensas que fez a Fernández. Eu quero afirmar, amigo e presidente da Argentina, que o Brasil está outra vez de braços abertos para acolher os companheiros argentinos. No negócio, na cultura, no futebol e na manutenção da relação de amizade que temos há tantos anos”.

Em discurso, Lula ainda lembrou:

Do gesto de carinho de Fernández ao visitá-lo na época em que estava detido na Polícia Federal;

Da ampliação das relações comerciais entre Brasil e Argentina durante os governos petistas;

Da necessidade dos empresários de ambos os países valorizarem a relação Brasil-Argentina;

Da importância de manter relações não apenas políticas, como culturais e científico tecnológicas.

“Hoje é o começo de uma grande história. A Argentina será tratada com carinho e respeito que sempre mereceu. Nem o futebol nos dividirá [….] Nós seremos parceiros em todas as horas”, afirmou.

Alberto Fernández. O presidente argentino também discursou na cerimônia. Ele elogiou o amigo petista, citando iniciativas de combate à fome implementadas nos dois primeiros mandatos dele, e afirmou que Brasil e Argentina têm “muitos desafios parecidos”.

“Estamos dando origem a um vínculo muito mais profundo do que tínhamos e que vai durar pelas próximas décadas. Todos conhecem o carinho e admiração profundos que tenho por Lula. Sinto que agora, com Argentina e Brasil completando 200 anos de relações comerciais e fraternas, estamos começando uma nova etapa”, apontou.

Fernández ainda citou que as nações vão trabalhar para resolver os “mesmos problemas de antes”, já que “pelo Brasil passou [Jair] Bolsonaro e pela Argentina passou [Mauricio] Macri”, em clara crítica a ambos os ex-presidentes.

Também afirmou que, juntos, os mandatários irão:

Ajudar a consolidar a democracia e instituições;

Impedir que qualquer “fascista se aposse da soberania popular”;

Potencializar a importância do Mercosul;

Voltar a discutir sobre a Sur, moeda comum de transações comerciais;

Conversar amanhã com todos os líderes do continente para fortalecer as relações.

“Nossos povos querem bem-estar e justiça e vamos continuar trabalhando nesse sentido”, garantiu.

Objetivos. Esta é a primeira viagem internacional de Lula desde que assumiu o novo mandato. O petista viajou para o país vizinho no domingo (22). No Twitter, ele afirmou que a viagem serve para retomar a parceria entre o Brasil e a Argentina.

Agenda. Na manhã de hoje, Lula participou de uma oferenda de flores na Plaza San Martín. Depois, ao lado da esposa, Janja, se reuniu com Alberto Fernández. O presidente brasileiro também deve se reunir com empresários e, à noite, ir a um concerto musical no Centro Cultural Kirchner.

‘País irmão’
Lula publicou nas redes sociais uma foto ao lado do amigo e presidente argentino. Na legenda, o petista afirmou que a Argentina é um “país irmão do Brasil”, e disse que vão trabalhar juntos.

Encontro com Maduro
Lula não se reunirá mais com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, na Argentina. Segundo assessores do presidente, o cancelamento do encontro foi decidido pelo governo venezuelano. O motivo não foi informado.

Os dois estão em Buenos Aires para a reunião de cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), marcada para acontecer na terça-feira (24).

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