O homem sem dinheiro

Miguezim Lucena

I
Disse Edson Vidigal,
O filho, em um rompante:
“O homem sem ter dinheiro
É um cadáver ambulante”.
E eu digo, com cabimento:
É um grande entupimento
Na saída do bufante.
II
Pode o homem ser falante,
Se o dinheiro faltar
O homem fica ofegante,
Começa logo a suar,
Se amofina na palhoça,
E a voz que era grossa
Tende mesmo a afinar.
III
Capaz até de chorar,
No bolso não acha troco,
É enxame sem abelha,
É uma coruja sem toco,
O tatu sem um buraco,
Um cachimbo sem tabaco,
Uma casa sem reboco.
IV
É um pau por dentro oco,
É ressaca de Cinzano,
É comer comida fria
Da panela de um cigano,
É perder tudo no jogo
E se cagar soltando fogo
Pela virada do ano.

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