Correu como pólvora pelas redes a hipótese, levantada pelo site O Antagonista, de o PL (Partido Liberal) pedir ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) a anulação das eleições de 2022.
O burburinho não foi nem negado nem confirmado.
Sabe-se apenas que circula por aí um relatório parcial de um instituto contratado pela legenda de Jair Bolsonaro e Valdemar Costa Neto para supostamente atestar a confiabilidade das urnas. O instituto teria apontado mau funcionamento de urnas antigas e concluído que não é possível validar os resultados gerados pelos equipamentos em 2009, 2010, 2011, 2013 e 2015.
O presidente do instituto foi a público dizer que não é possível dizer nada por enquanto e que o relatório final da análise sairá apenas em dezembro.
Sabe o que vai acontecer depois disso?
Nada.
O resultado das eleições de 2022 foi atestado por diversos órgãos fiscalizadores. A vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi imediatamente reconhecida por chefes de Estado da Europa, da China e dos EUA e também pelos presidentes da Câmara e do Senado.
Há um conflito evidente em um relatório, parcial ou não, produzido por uma empresa contratada pela derrotada na eleição principal. Tão evidente que não há a menor chance de o pedido ser acatado pelas autoridades eleitorais.
(Ou alguém imagina Alexandre de Moraes, presidente do TSE, vindo a público pedir desculpas porque, vejam só, ninguém até então havia decretado problemas nas urnas, apenas a empresa contratada pelo partido do presidente derrotado, então devemos voltar no tempo e conceder aos candidatos em eleições dos últimos dez anos o direito retroativo de disputarem novamente).
Que ninguém se engane: a dupla Valdemar-Bolsonaro não quer anular eleição alguma.
O primeiro por razões óbvias: o PL foi o partido que elegeu a maior bancada da Câmara, com 99 deputados. Isso sem contar os senadores e governadores eleitos pela sigla, que passará agora a nadar em um caminhão de dinheiro dos fundos partidário e eleitoral.
Por que então, justo agora que o PL se transformou no maior partido do país, não correr à Justiça para pedir a anulação do pleito? Parece pouco inteligente, não?
Bolsonaro não tem falado muito desde que o dia da eleição, mas sabe que a chance de um pedido do tipo prosperar é irrisório.
O que ele quer é tumultuar.
Sob as bênçãos de generais-abutres, que de vez em quando saem das tocas para tocar berrante aos seus radicais, as manifestações em frente aos quartéis Brasil afora mostram não faltarão, nos próximos quatro anos, soldados voluntários para fazer da vida do próximo presidente e dos ministros do Supremo um inferno.
Para isso precisam de uma boa história em que acreditar.
Bolsonaro finge que saiu de cena por estar deprimido com sua primeira derrota desde que saiu do Exército pela porta dos fundos e foi vender seu populismo barato e perverso na política. Está, na verdade, é tramando contra a segurança nacional, como tem feito desde os tempos de paraquedista.
A ideia não é apresentar a verdade nem libertar ninguém, mas dar corpo a um factóide que lhe permita sobreviver à sombra do poder por quatro anos, manter a base unida em torno de um inimigo e voltar com força assim que possível. Para isso é necessário martelar a ideia de que Lula é um presidente ilegítimo, que foi eleito por uma armação judicial estruturada a uma fraude nunca comprovada das urnas.
Bolsonaro, como sempre, não precisará provar nada do que diz, desde que haja quem acredite na conversa.
É exatamente o que tem feito Donald Trump, o precursor da turma, desde a derrota para Joe Biden na corrida presidencial norte-americana em 2020. Trump se alimentou e alimentou a paranoia desde então e acaba de anunciar que está em campo para disputar novamente a Presidência.
Matheus Pichoneli