POR TRÁS DA CALVÁRIO 1

POR AMANDA RODRIGUES

Quando casei com você sempre soube que estaria casando com um monte de gente e que algumas dessas pessoas iam me adorar, outras me odiar. Nunca me importei com isso, pois o que nos uniu foi algo tão nosso e inexplicável que nunca olhamos muito ao redor, sempre estivemos empenhados em construir bases sólidas de um relacionamento que poderia não ter dado em nada, talvez fosse mais provável não dar, mas deu.

Conseguimos moldar nossas manias e costumes, unir nossos filhos e nossa família.

Vivemos de forma tranquila e feliz, graças a Deus, e claro ao nosso querer de estarmos juntos, porque além disso não tem mais nada que nos una. Não temos filhos juntos, não temos bens juntos e não pretendemos construir nada material juntos.

Nosso primeiro ano de casados foi recheado de emoções, boas e ruins. Certamente o mais marcante não foram as ruins, essas considero que tinham sido fortificantes, esperadas e tristes, de indignar qualquer pessoas. Você passou o ano sendo caçado, você não, nós! Uma coisa alucinante, uma verdadeira rede unida em torno de destruir tua vida, nossa vida. Sabíamos que fariam alguma coisa, só não tínhamos certeza do até onde iriam.

Engraçado que planejamos nossa viagem de férias e também para comemorar meu aniversário, mas, algo me dizia que isso não seria possível, tanto é que fiz uma coisa nada costumeira, chamei minhas amigas e comemorei meu aniversário oito dias antes. Quase não fazia a minha mala, porque algo muito forte dentro de mim dizia que nós não íamos viajar.

Chegou o dia, viajamos 12/12.

E lá do outro lado do mundo meu coração apertava, e eu tinha certeza que algo aconteceria, só não sabia o que. Dia 17, acordei bem cedo, como diz meu pai, sou um tetéu, acordo com os passarinhos. Fiquei aguardando dar 6:00 da manhã no Brasil, 12:00 em Istambul. Com o celular na mão, olhei os blogs e bingo! estava lá “ deflagrada a 7ª fase da operação calvário”.

O mundo caiu? Não, o mundo se mostrou como eu já esperava que ele fosse, vasculhei mais um pouco e vi que estavam na nossa casa, acho que 6:10 liguei para o advogado e pedi que ele fosse acompanhar a busca e apreensão. Nesse momento, fechei os olhos, e senti que nós não estávamos sozinhos, os céus estavam ao nosso lado e contribuíram para que estivéssemos longe para não passar junto com nossos filhos pelo trauma de uma busca e apreensão.

Com calma, fomos digerindo o que estava acontecendo, para resolver a volta ao Brasil.

Antes de ter acesso a “acusação” lembro que olhei pra você e disse: – Você fez tudo isso que estão falando?” ( naquele momento sabíamos o que as manchetes dos blogs diziam) você me olhou e disse: Claro que não! Eu respondi que o que você tinha feito pela Paraíba não era uma maquete, um power point ou uma “denúncia”, estava construído, pavimentado. Estradas, hospitais, escolas, praças, adutoras, infinitos programas sociais, valorização dos professores e da polícia, indicadores sociais e econômicos consolidados. Isso tudo não era uma fantasia, era uma realidade. Disse que eu estava ali e que passaríamos juntos por tudo.

Consegui a denúncia e começamos a ler, uma série de acusações, sem nexo, sem provas, uma estória meio de série do Netflix, de alguém onipotente, onisciente, super poderoso, capaz de fazer muita coisa ao mesmo tempo, uma espécie e Super Herói, do mal claro, que tinha super-poderes e ao passo que construía um Estado novo, roubava todo o dinheiro, de forma meia doentia; seu prazer era enterrá-lo para gastar certamente na outra vida, porque nessa já chegando aos 60 anos não teria capacidade sequer de desenterrar.

Voltamos das férias para uma verdadeira guerra. Fiz uma pequena mala para meu marido ser preso, e esse seria meu presente de aniversário. Retornamos ao Brasil dia 19/12 23:00 horas, nos separamos no aeroporto, em meio a notícia que tínhamos perdido a guarda de H. , seu filho de 9 anos, em uma sentença proferida em 15 minutos, no último dia do recesso forense, por uma juíza que não conhecia o caso e sem o parecer do ministério público, desconsiderando uma sentença embasada, com parecer do ministério público e laudos de psicológicos.

Dia 20/12, você, após passar por uma audiência de custódia, foi levado ao presídio, e eu passei o dia resolvendo toda a burocracia necessária. A noite, muito cansada, cantei parabéns com os meus filhos e recebi, quase desacordada pelo cansaço e choro engasgado, a grata visita de Nossa Senhora

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