1 – O sábado começava com a ida à feira da Torre ou do Bairro dos Estados. A mulher entregava a relação dos produtos a serem comprados e eu seguia, primeiro para o barraco de Seu José ou para o de Dó onde já me esperava o cuscuz tinindo de quente para ser guarnecido com bode guisado ou rabada.
2 – O médico Edglei Maciel comprou uma fazenda em Campina Grande para criar gado. Como não entendia do assunto, pediu socorro ao seu amigo Paizinho Bronzeado, prefeito de Remígio e irmão do desembargador Luiz Bronzeado. Queria que ele lhe indicasse quem poderia vender-lhe umas crias de boa procedência.
Paizinho chamou “Mané Nêgo Véio”, corretor de gado, à sua presença, e quando ele chegou pitando seu cachimbo, o prefeito apresentou o médico, recomendando que era seu amigo e precisava comprar 20 vacas das boas. “Mané Nêgo Véio” prometeu cair em campo e conseguir o melhor.
Na semana seguinte, lá estavam as 20 vacas. Doutor Edglei não cabia em si de satisfação. Levou para sua fazenda e fazia questão de exibi-las aos visitantes. Um destes, médico veterinário, ao ver os animais alarmou:
– Edglei, te roubaram!
E chegando mais perto, mostrou ao amigo que no meio das 20 vacas existiam umas duas tão velhas que nem dentes tinham mais.
Enfurecido, doutor Edglei procurou Paizinho Bronzeado para se queixar. Enraivecido, Paizinho chamou o preto e exigiu que ele explicasse porque colocara duas vacas velhas no meio das outras.
“Nêgo Véio”, sem tirar o cachimbo, fazendo cara de santo, se justificou:
– Foi pra aconseiá as nova, seu Paizinho.
3 – Devidamente forrado, com as compras dentro do carro, entregava-as à Patroa e seguia para o segundo itinerário: O barraco de Zezão no Ernesto Geisel, localizado no meio da feira, ponto de encontro dos boêmios e pés inchados do bairro.
4 – O ex-deputado e médico Antonio Medeiros Dantas atendeu no seu consultório, em Cuité, uma preocupada senhora com o filho que de longe a acompanhava e que estaria com “doença de mulher”.
– Doença de mulher?!-interessou-se Medeiros, já pensando em descobrir alguma coisa nova na Medicina, capaz de torna-lo famoso nacionalmente.
Ao pedir mais detalhes da doença, Medeiros viu a mãe abrir a porta do consultório e gritar para seu “menino” de 20 anos:
– Neném, como é mesmo aquilo que tu tem? Quando tu goza num góipa ou quando tu góipa num goza?
5 – Zezão servia aos visitantes a especialidade da casa: Pau Dentro, preparado com cachaça e 20 tipos de raízes. Jogava tudo num balde grande de margarina, mexia e deixava dormir por três dias. A bebida ficava da cor de uísque. E quando ingerida em larga escala, deixava o bebedor inocente, dorminhoco, cagado e feliz.
6 – No tempo em que não existia aids, nem motéis e os cabarés proliferavam, um dos mais famosos era o “Cachimbo Doce”, localizado na estrada de Cabedelo. Suas meninas viviam exclusivamente para os gringos que desembarcavam no porto, cheios de dólares.
Época de crise, sem navios, as mulheres sem um tostão. De repente, na entrada do “Cachimbo Doce” aparece aquele galegão vistoso, andando devagar, com uma mochila nas costas. O mulherio se assanhou e a mais assanhada de todas encostou no galêgo, interpelando-o:
– Do You folk you?
E o “gringo”:
– Que eu “folko”, “folko”, dona, só não tenho é dinheiro.
O “gringo” era um galego sarará, avermelhado, fugido da seca dos Patos do Major Migué.
7 – Mas nem todos bebiam o pau dentro de Zezão. Zé Papé, da Cagepa, chegava com ares de luxo e preferia vinho. Gelado. Um Carreteiro suave, servido em garrafa de plástico, que Zé Papé engolia estralando a língua, de tão saboroso que era.
8 – L… representava o distrito de São Gonçalo na Câmara Municipal de Sousa. Tinha fama de gay, embora gostasse de aparecer perto de mulheres só para tapear os eleitores.
Estava havendo um comício naquele distrito, comandado pelo então deputado Marcondes Gadelha, quando deram pela falta de L… O locutor começou a convoca-lo e nada dele aparecer.
Quando já havia chamado várias vezes, chegou ao palanque um esbaforido menino com a informação:
– O vereador L… chega já. Ele está acabando de dar o cu.
9 – Lá pelas tantas chegava Anacleto Reinaldo, de terno e gravata, pisando no chão sujo do mercado com seus sapatos impecáveis. Entrava para o interior do balcão e já o esperava uma chapuletada de conhaque de alcatrão. Engolia, agradecia e ia embora sem dar cartaz aos bêbados.
10 – O empresário joão Rodrigues Alves, de saudosa memória, se candidatou a prefeito de Cajazeiras, tendo como companheiro de chapa o médico Júlio Bandeira.
Num giro pela zona rural, a caravana de Seu João parou no Distrito de Boqueirão (Engenheiro Avidos) para um rápido comício. Orientado, o candidato fez um bocado de promessas, desde a construção de escolas, até água encanada para a comunidade.
Pouco letrado, João Rodrigues ouviu de um assessor que tudo aquilo seria construído em convênio com a Sudene.Empolgado, o candidato emendou:
– Além dessas obras, eu também prometo fazer um convento pra Sudene.
11 – E agora lá se vão meus abraços sabadais para Alexandre Moca, Fernando Caldeira, Thales Gadelha, Josival Pereira, Zé Alan Abrantes, Gabriel do Troodon, Maria Lucena Lopes, Levi Dantas, Edna Henrique, Gilberto Videres, Seu Clóvis da Cabrita, Alysson Filgueiras, Maguila de Bananeiras, Ramon Moreira, Douglas Lucena, Cícero Lima, João Tomé Camurça, Padre Albeni Galdino e Zeca da Igreja.
12 – Em Triunfo, o ex-prefeito “Doutorzinho” fez uma farta distribuição de óculos de grau com os seus eleitores, sem qualquer tipo de consulta prévia.
Joaquim Chaves, um caboclo da roça, recebeu um que tinha as lentes muito grossas. Mas como era dado, botou o bicho na cara e saiu andando, vendo tudo grande.
Ao se aproximar da feira de frutas e verduras, parou em frente à banca do vendedor de limão e encomendou:
– Compadre, abra dois cocos desses que eu tô morrendo de sede.