1 – Frutuoso Chaves e Gonzaga Rodrigues são a prova de que o texto não envelhece e que jornalista só deixa de ser jornalista quando é convocado para a redação do céu. Gonzaga fez 89 escrevendo como um adolescente. E os textos de Frutuoso são, hoje, bem melhores do que aqueles de 75, quando o conheci em A União, eu foca recém chegado do sertão e ele chefe de reportagem e professor de todos nós.
2 – Devo a Frutuoso o pouco que aprendi. E devo a Werneck Barreto o primeiro emprego em jornal. Já contei isso em espaços outros e aqui mesmo. Tenho um capítulo inteiro no meu livro “Nos Tempos de Jornal” falando sobre esse começar.
3 – E como foi bom começar por ali, com Frutuoso chefiando a reportagem, Aguinaldo Almeida editando o jornal, Zé Souto, Murilo Sena, Barreto Neto e Afrânio Bezerra na Direção e a redação cheia de feras como Assis, Rubens, Josemar, Werneck, Rubens Nóbrega e Marcone Carneiro Cabral, sem esquecer o grande Feitosa na Secretaria e o eterno Zé Boró servindo o café para matar o sono.
4 – Quando cheguei em A União os repórteres eram Renato, hoje aposentado pelo Banco do Brasil, um rapaz meio agalegado cujo nome esqueço, Chico Pinto e, um pouco mais chique que os demais, Marcone Formiga.
5 – Renato era o melhor repórter. Tanto produzia como escrevia bem. Era, digamos assim, a menina dos olhos de Frutuoso. Mais tarde quando ele saiu para o Banco, ficamos eu, Chico Pinto e já muito depois Wellington Farias.
5 – Também fiz parte daquela famosa Redação de A União. Acabara de me casar em 78 e o dinheiro que ganhava como repórter não dava para cobrir as despesas. Fiz um acordo com os meus chefes: Seria repórter durante o dia e redator a noite. Com o salário de repórter pagaria o aluguel da casa onde fui morar com Dona Cacilda e o que ganhava como redator seria, digamos assim, o dinheiro da feira.
6 – Lembro que quando cheguei na reportagem de A União, todo bronco, avistei aquele sujeito alto, de bigode, com jeito de importante. Mantive respeitosa distância dele e lá do meu insignificante cantinho o ouvi informar a Frutuoso que estava saindo para conversar com o gerente do Banco Real. Aí foi que o achei importante. Lá em Princesa, de onde vim, gerente de banco era mais importante do que prefeito, sacristão, padre e delegado.
7 – E foi ao final daquele dia que, ao entrar no ônibus com destino ao Bairro da Torre onde estava morando, deparei-me com o sujeito alto e importante, que me olhou, avisou que pagaria minha passagem, ao mesmo tempo em que fez a pergunta:
– E aí, deu tudo certo?
Ao que lhe respondi respeitosamente:
– Deu sim senhor!
8 – Somente depois vim a saber que o senhor alto e importante era o velho Chico Pinto, também chamado de Cabo Duca, foca como eu, vindo do sertão como eu e, como eu, em busca de uma vaga no jornal do governo.
9 – Falei em Marcone Formiga e me veio à lembrança um acontecido com ele. Ele, sem ninguém sugerir, descobriu uma indústria que funcionava nos bastidores dos hospitais, envolvendo coveiros, enfermeiros e médicos. Quando um sujeito estava à morte, logo o papa defunto era avisado, procurava a família e negociava o caixão. Havia uma guerra de funerárias que o povo do lado de fora desconhecia. Marcone descobriu, botou tudo no jornal, foi o maior escândalo. Certo dia, caminhava para o jornal quando se viu acossado por alguns representantes de funerárias, que queriam seu couro. Foi uma carreira monumental. Corria e os coveiros corriam atrás dele. Mas conseguiu escapar, mais tarde voou para Brasília e se transformou em repórter internacional.
10 – Para não cometer injustiças, cito os homens do eito, aqueles que não apareciam mas eram tão importantes para o jornal quanto os que ficavam na vitrine. E os do meu tempo eram Pai, Pirrita, Pilunga, cujos nomes de batismo são, na mesma ordem, Walter de Souza, Regivaldo Luiz de Souza e Cláudio Gomes dos Santos.
11 – E agora lá se vão meus abraços sabadais para Aguinaldo Almeida, Josemar Pontes, Assis, Rubens Nóbrega, Pilunga, Frutuoso Chaves, Edmilson Lucena, Antonio David, Ortilo Antonio, Josinaldo Malaquias, Wilma Vanda, Deijaci Araújo e Sonia Yost.
12 – Após se eleger vereador Zeca do Bigode veio a João Pessoa conhecer a grandeza do mar e os sabores dos bares. E foi num bar que provou pela primeira vez o famoso ensopado de caranguejo. Gostou tanto que exagerou na dose. As consequências chegaram ainda no bar e ele, se contorcendo, foi levado ao banheiro. No banheiro, trancado por dentro, deparou-se com a novidade: havia dois vasos, um, o bidé e o outro, a bacia sanitária. Só que ele, em dúvida e com pressa, descarregou o barro no bidé e, com o aparelho cheio pela borda, procurou a descarga e não achou.
– Valha-me Deus, o que é que eu vou fazer agora? – lamentou-se, apavorado. Nisso, viu três torneiras em cima do bidé, abaixou a cara para abrir uma delas e recebeu uma enxurrada de merda no rosto.
Sem saber o que fazer para não passar vergonha, Zeca terminou passando com as mãos, do bidê para o outro vaso, toda a carga que havia despejado.
Final da história ; Zeca passou mais de uma hora no banheiro e saiu de lá mais amarelo do que japonês com hepatite.