PORQUE HOJE É SÁBADO


1 – Nunca fui bom comerciante, principalmente quando resolvi me transformar em vendedor de minhas próprias mercadorias. Vendendo as dos outros até que dei para o gasto. Os pirulitos de Dona Odívia ou os pães da padaria do meu padrinho Rafael Rosas eram vendidos a preços fixos e eu prestava contas direitinho. Recebia minha porcentagem e voltava pra casa ancho, me achando rico.

2 – Mas quando fui vender às minhas expensas, não deu muito certo. Botei uma barraca de quatro estacas e uma coberta de lona na esquina do tanque de Dona Bezinha, saída para o Jatobá, para tocaiar os matutos que desciam da Serra do Gavião com destino a feira e vice-versa. Nela botei pra vender cocada de umbu, pão francês, pão doce, cigarro e cachaça. No começo as coisas caminharam bem, mas do meio para o fim quebrei por causa dos fiados jamais honrados. A turma do Gavião comia, bebia e mandava anotar para pagar na outra semana. E na hora de prestar contas, em vez de lucro havia o prejuízo e a necessidade de cobrir os buracos com o dinheiro dado por meu velho pai.

3 – Foi daí que troquei a profissão de vendedor pela de cambista do jogo do bicho. O banqueiro Zé de Horácio me deu o talão e me mandou pra rua. Fiz ponto no cabaré de Estrela. A própria Estrela fazia jogos generosos. Pena que tenha sido o pivô da minha demissão. Tirou uma milhar gorda e Zé de Horácio achou por bem me dispensar alegando que eu dava azar e terminaria quebrando a banca.

4 – A minha última tentativa foi no posto de locutor da difusora de João França. Anunciava as mercadorias no dia da feira e, à noite, cantava as pedras do bingo comandado por ele num pequeno pavilhão instalado em frente a sua loja. Sorteava-se penicos de plástico, marrafas para prender os cabelos das madames, água de colônia, panelas de variados tamanhos e até trancelins de bijuterias.

5 – Minha epopéia terminou em 70, com a eleição de Antônio Nominando Diniz para prefeito da cidade. Fui nomeado funcionário público e me deram o almoxarifado da Prefeitura para tomar conta. Dava os dois expedientes no velho prédio da Sanbra, de onde despachava carros de mão, enxadas e enxadecos para a turma da Prefeitura trabalhar no eito das ruas esburacadas. Foi meu primeiro emprego de verdade, no qual fiquei até meados de 75, quando saí do sertão para fazer o vestibular de Direito em João Pessoa.

6 – Cheguei aqui em junho. Me matriculei no Cursinho Águia de Amandio Amadeu e comecei a conhecer a Capital. Três meses depois se deu a tragédia. Era setembro, semana da Pátria. Uma barca do Exército, que fazia manobras no Parque Solon de Lucena e, entre as manobras estava a de passear com moradores da cidade pelas águas, afundou e matou mais de 20 pessoas entre velhos, jovens e crianças.

7 – Foi por esse tempo que ganhei um emprego de repórter em A União. Estava na pindaíba e Werneck Barreto, a pedido de sua irmã e minha amiga Ivete, me apresentou a Frutuoso Chaves para um teste de repórter. Passei e fui contratado. E estou nesse perepepé até hoje.

8 – Essa segunda parte da minha vida, a de jornalista, está contada em detalhes no livro “Nos Tempos de Jornal”, a venda na Livraria do Luiz, tanto a do centro, ali na Galeria Augusto dos Anjos, quanto a da praia, no Mag Shopping de Manezim Gaudêncio.

9 – Falar em praia, encontrei Murilo Bernardo na caminhada de fim de tarde. Lúcido e faceiro aos 85 anos, com jeito de quem vai chegar aos 100 sem perder o tino.

10 – Imagino a frustração dos eleitores desse empresário patoense preso pela Polícia Rodoviária Federal com mais de R$ 150 mil em espécie. A farra ia ser muito ótima demais, mas agora ficou só o gostinho do “ah se sêsse!”

11 – E agora lá se vão meus abraços sabadais para Cícero Lima, Ovídio Mendonça, Francisco Ferreira, Albiege Fernandes, Kubi Pinheiro, Messias Fernandes, Otacílio Trajano, Bigu de Jacumã, Renato do Funcionários II, Vavá da Luz, Geordie Filho, Fred Menezes, Marcos Pires, Luciano Bernardo, Johnsim Abrantes, Marcela Sitônio, Narriman Xavier, Norman Lopes e Zé de Adauto.

12 – Corria o ano da graça de 1976 quando, no Lastro, foi desencadeada uma campanha antipólio, através de convênio entre a Prefeitura e a Fusep. Todos os dias, o rádio martelava nos ouvidos dos moradores:

-Não esqueçam de vacinar seus filhos, na faixa etária de zero a quatro anos.”

Precisando viajar para João Pessoa, o prefeito Luiz Abrantes de Sá ligou para o seu assessor na Capital, Johnson Abrantes, avisando:

-Me espere na rodoviária que estarei descendo do ônibus na faixa etária de quatro a seis horas.”

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