PORQUE HOJE É SÁBADO

1 – Quando os primeiros raios de sol apontavam na cabeceira do Morro da Cascavel, os tambores rufavam anunciando a chegada do novo dia. Era o 7 de Setembro começando e a cidade despertando ao som da alvorada dos meninos do Bom Conselho. E a corneta de Pedro Caboclo, altiva e afinada, entoava o dobrado do começo daquele que seria o dia mais festivo de Princesa.

2 – Os meninos sambudos que ainda não estudavam no Bom Conselho pulavam da cama e corriam para ver a banda marcial descer pela Rua Grande com Pedro Caboclo de maestro. Camilão e Antonio Gordão iam na frente, cada um levando o bombão que era “agredido” por duas enormes maçanetas de cabeças redondas. Atrás deles seguiam Antonio Lira no tarol, Tarcisio Henriques na caixa, Batista Campos no bombo, Bosco Fernandes também no bombo e outros cuja memória começa a esconder.

3 -Terminada a alvorada, a banda se recolhia e voltava mais tarde puxando o desfile. Os mais altos iam na cabeça carregando enormes bandeiras. Batista de Jericó, Zezinho de São José e Bartolomeu Maia eram os escalados para tão garbosa missão. Na frente deles, Ilva Maria fazia piruêtas como baliza da festa.

4 – Havia uma rivalidade enorme entre os alunos do Bom Conselho e as belas meninas da Escola Normal Monte Carmelo. Elas, as meninas, davam um show a partir da banda marcial, composta exclusivamente de garotas da alta sociedade local. Os do Bom Conselho, homens e mulheres, vestiam azul e branco. As meninas Carmelitas trajavam saias rodadas vermelhas e blusas brancas. Eram orientadas por Luiz Barreto e por João Mandu. Barreto usava um apito para comandar o desfile. Não havia corneta no Monte Carmelo.

5 – Houve uma briga num desses encontros e Camilão quebrou o pau do bombo na cabeça de uma moça. Foi o maior reboliço. Mas tudo terminou em paz, como sempre terminava na cidade de Princesa.

6 – Ah, não esquecer o desfile do Gama e Melo sob o comando do Cabo Brito, mais modesto porém tão garboso e vistoso quanto os do Bom Conselho e do Monte Carmelo.

7 – A guerra terminava ao meio dia e, ensarilhadas as armas, os guerreiros do Bom Conselho e do Monte Carmelo se encontravam para namorar. E o dia chegava ao fim entre beijos e promessas de amor eterno.

8 – Quem não namorava ia encher a cara de cachaça no Bar do Peixe de Maria do Ó às custas do professor Genésio Lima, diretor do Ginásio Nossa Senhora do Bom Conselho. Ali o professor tirava a toga de mestre e se misturava à juventude, permitindo excessos, porém reprimindo os desrespeitos, que jamais existiram.

9 – E à noite, como ninguém era de ferro, todos se reuniam no baile promovido pelo Clube Recreativo Princesense ao som de Manoel Marrocos e seu afinado conjunto. Ali, Antonio Gordão e Carlos Pata Choca disputavam palmo a palmo quem melhor dançava um bolero, que invariavelmente era o “Ai Moraria” de Angela Maria.

10 – Quando o rítmo mudava para o pinicado, todos paravam para ver o imbatível Antonio Lira, o maior dançador de gafieira da região.

11 – E como hoje é dia de sentir saudades, aqui vão os abraços cívicos para Antonio Lira, Antonio Gordão, Dil de Severino Almeida, Severino de Dona Corina, Eduardo Abrantes, Neno de Mirabô, Joca, Bosco, Bezinho e Toinho Fernandes, Zé, Cicero, Richomer, Maria, Monica e Severino Barros, Antonio Roberto e Dominguinhos, Pixota de Maria Antonia, Ernani de Ulisses, Moab de Pedro Crente, Veronese, Vilma, Marçal e Wellington Lima, Bibiu, Miguezim, Nininha, Dorinha e Neci Lucena, Zé Calunga, as meninas de Seu Alfredo, as filhas de Odilon, as meninas de Zé Marreta, os filhos de Seu Orlando, os herdeiros de Seu Fila, os filhos e filhas de Rafael Rosas e todos os Mariano, Florencio,Arruda, Fofa, Quinca, Brejeiro, Maia, Frazão, Duarte, Lima e Arapapaca.

12 – Zé Pequeno era o líder dos carroceiros aqui de João Pessoa. Todo ano comandava um desfile de carroças em homenagem ao interventor Argemiro de Figueiredo e ao prefeito Fernando Nóbrega.

De repente, Getúlio demitiu Argemiro, Nóbrega também caiu. José Pequeno guardou sua carroça, trancou-se dentro de casa. Um dia, dois, ninguém mais o viu. No terceiro, pôs o terno novo, amarrou a gravata, engraxou os sapatos e passou pela casa do ex-prefeito Nóbrega:

– Chefe, vou ao palácio apoiar o novo interventor, Rui Carneiro.

-Por que tanta pressa, Zé Pequeno?

– Ah, doutor, três dias longe do governo é demais.

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