PORQUE HOJE É SÁBADO


1 – Estamos em plena efervescência junina. As festas pipocam aqui, ali e em alhures. Os cantores estão com as burras cheias de reais, muitos deles cumprem os compromissos voando em seus jatinhos. É a época mais feliz do ano, principalmente para o nordestino que adora dançar um miudinho fungando no cangote da amada.

2 – Já fui forrozeiro, daqueles que começavam no começo e só saiam na vassoura. Hoje prefiro contemplar à distância, talvez para não sentir saudades das festas verdadeiramente juninas, aquelas que primavam pelas raízes e não admitiam intrusos de outros ritmos nos seus arredores.

3 – Lá na minha terra, Princesa, o São João não era show como show é o São João de agora. Dançava-se ao som da sanfona, da zabumba, do pandeiro e do triângulo. Quando muito se permitia sons de outros instrumentos – os saxofones de Marrocos e Zé de Minininha, o trombone de Chico Mourão e o pistom de Benami -, mas todos só tocavam baião, xote e forró. Nada de bolero, de samba, de axé ou toada sertaneja.

4 – E a quadrilha era a atração maior da noite, com Parajara ou Cícero Bezerra cantando os anarriês em francês para o dançarino adiantar uma ou adiantar duas, dar a volta no salão ou formar o grande círculo. Hoje quadrilha nada tem de quadrilha. Tomou o formato da escola de samba do Rio de Janeiro e como escola de samba se apresenta, com direito a porta bandeira e tudo o mais.

5 – E os balões enfeitando o céu, perseguidos pelos fogos de lágrimas que também subiam tentando derrubá-los. E as canoas de Manezim Cristóvão, e o suco de João Costa, e o cachorro quente de caldo e pé de galinha de Maria Costa, e o bolo de Cecília Mandaú, e os namoros no oitão da igreja, e Padre Maia contando as fogueiras para pagar promessas, e as fogueiras acesas esquentando os frios e chamando as pessoas para se tornarem compadres e comadres de São João…

6 – Hoje as pessoas vão para espaços cada vez mais espremidos ver shows, cantar no lugar dos artistas que passam mais tempo fazendo munganga em cima do palco e levar dedadas inconvenientes nos espremidos das praças. Um verdadeiro horror.

7 – Claro, existem as exceções. Ontem mesmo houve o show de Flávio José em Bananeiras. Quem foi assistir gostou, mas sofreu um bocado para chegar ao local do espetáculo. Segundo Gutemberg Cardoso, o trânsito foi um terror. Clilson Júnior também atestou o problema do trânsito e ainda se reportou ao da falta de estacionamentos. Mas isso não pode ser debitado na conta de Flávio José, a quem cabe apenas cantar e tocar a sua sanfona.

8 – Faz duas semanas que só se fala na gravidez da namorada de João Gomes. Enquanto isso, as filhas de dona Zefa do Amendoim pegam bucho toda semana e ninguém diz nada. Que povo mais seletivo!

9 – Falar em Zefa me lembrei de Zé. E falando de Zé me vem a lembrança Zezé de Camargo, que, dizem, está perdendo a voz. Uma pena esse acontecido. O rapaz, junto com o irmão, é responsável por belas canções e não merecia um fim tão melancólico.

10 – O Facebook precisa se atualizar. Agora mesmo está sugerindo que eu faça amizade com Ronaldo, meu cabeleireiro que morreu há mais de quatro anos. Só se o Facebook está achando que está na hora do Bonitão aqui embarcar para aquela viagem sem volta.

11 – E agora lá se vão meus abraços sabadais para Edmundo dos Santos Costa, Zé Bedeu, Maguila de Bananeiras, Herbert Fitipaldi, Ramon Moreira, Mário Gomes Filho, Giovani Meireles, Diego Lima, Cícero Lima, Petronio Souto, Sérgio de Castro Pinto, Chico Pinto Neto, Felipe Silvino, Valdemir Azevedo, Eduardo Mayer, Werneck Barreto, William Olegário da Trindade, Leila Oliveira, Poliana Lima, 1berto de Almeida e Abraão Beltrão.

12 – Aurora, mulher de Cícero Tomaz, tornou-se conhecida como a pessoa que mais enjoou carro na vida. Não podia ver um carro, nem de longe, que se danava a enjoar. E se entrasse num, então, o mundo acabava.

Um dia, sentindo-se doente, chamou o marido e pediu:

– Cícero, quando eu morrer quero que me leve para enterrar em Santa Maria.

Ao que Cícero ponderou:

– Como, Aurora, se tu enjoa carro?!

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