1 – Os do meu tempo hão de concordar: as campanhas políticas de antigamente tinham mais emoção. Os grandes comícios reuniam multidões, enchiam ruas e praças. O povo gostava de ouvir os oradores, se emocionava, aplaudia e pedia biz. Quem escutou Asfora, Ronaldo, Antônio Nominando, Alcides Carneiro, João Agripino, Vital do Rego, Pedro Gondim, Burity e José Américo, certamente sente falta deles ao se deparar com os oradores atuais.
2 – E as passeatas levavam os eleitores à loucura. Eles pulavam, gritavam, botavam o candidato na cacunda, insultavam os adversários e as vezes a bala comia no centro, como comeu com direito a mortes na Praça da Bandeira em Campina Grande.
3 – Na minha terra a rivalidade entre os partidários de Aloysio Pereira e de Antônio Nominando as vezes culminava com ameaças de balas. Ninguém de Nominando se atrevesse a passar em carreata ou passeata na frente do palacete dos Pereira ou os Pereira se atrevessem a passar na frente da casa grande dos Nominando, porque a guerra seria trágica.
4 – Quando Nominando se elegeu prefeito a passeata da vitória foi aos bairros e, na volta, os mais afoitos inventaram de passar na frente do palacete. Homens armados com os mosquetões usados na guerra de 30 foram postados em pontos estratégicos com a ordem de atirar para matar.
5 – A tragédia foi evitada por um capitão designado para dar segurança nas eleições em Princesa. O homem postou o destacamento nas ruas de acesso ao palacete e forçou a turma da vitória a mudar de rumo. Mas, revoltados e cheios de cachaça, os vitoriosos invadiram a cadeia pública para peitar o capitão.Que não se intimidou, ficou na porta da cadeia com seus soltados impedindo o acesso até que os ânimos serenaram e todos foram embora.
6 – Certa vez o então deputado Antônio Nominando Diniz (pai do atual conselheiro e presidente do TCE Nominando Diniz) foi despertado de madrugada por uma caravana pessedista. Tinham participado de um comício até tarde, onde a aguardente foi fartamente distribuída.
Um deles gritou, na porta de Nominando:
– Acorda, Princesa, para ouvir os clarins da vitória.
No mesmo dia, logo cedo, Diniz organizou uma concentração em frente à sua casa. Em seu discurso, explicava o otimismo dos adversários:
– Essa noite, fui despertado por uma voz estertórica que dizia: acorda Princesa para ouvir os clarins da vitória. Mas, senhores, não eram os clarins que anunciam o triunfo, e sim as excelências do produto de Vitória de Santo Antão, sumo dos canaviais e alma das garrafas: a aguardente Pitu.”
7 – Uma multidão estava concentrada na Lagoa do Parque Solon de Lucena participando do comício promovido por Jânio Quadros, candidato à Presidência da República.
Na hora em que Jânio começou a falar, alguém soltou um busca-pé. Foi um pânico geral, milhares de pessoas correndo. Raymundo Asfora, que também participava do comício, tomou o microfone do orador e gritou:
– Começa a provocação. É fogo baixo do Governo. Não sei como brinca com fogo quem tem lã.
Referia-se a Ruy Carneiro.
8 – Num comício na cidade de Patos, João Agripino caiu na besteira de facultar a palavra. O vereador Rui Gouveia, emedebista roxo (João era da Arena), gritou lá do meio do povo:
– Governador, comentam por aqui que o senhor tem duas mulheres.
João, sem alterar a voz, contra-argumentou:
– Seria feio se dissessem que a mulher do governador tinha dois maridos.
9 – Na campanha eleitoral de 72, Padre Levi Rodrigues realizou uma passeata de jumentos que repercutiu no país inteiro, por conta da cobertura da imprensa.
Ia na frente, comandando a passeata, usando uma batina preta, quando alguém gritou:
– Burra preta!
Levantando o braço direito, respondeu:
– Está entre as pernas da mãe, filho da puta!
10 – Edvaldo Motta falava num comício no bairro de São Sebastião, em Patos, quando, tentando dar uma de honesto, num tom de muita seriedade, disse:
– Engano a tudo, menos a minha consciência. Não! A minha consciência, não! Prefiro dar um tiro no ouvido a enganá-la…
Um gaiato, de lá do meio da multidão silenciosa, emendou:
– FOGOOOO!!!
11 – E agora lá se vão meus abraços sabadais para Romualdo dos Correios, Rômulo Montenegro, Jorge Rezende, Ulisses Barbosa, Pedro Macedo, Abrão Almério, Flávio César Pereira, José Pinheiro, Fábio Mozart, Marcos Maivado Marinho, Luiz Motorista, Aluska Lacerda, Marco Antônio Gouveia de Morais, Sérgio de Castro Pinto, Aécio Diniz, Walter Paiva, Ademar Teotonio, Alarico Correia Neto e Alexandre Moca.
12 – Campanha pegando fogo em Pombal, comícios gigantes de parte a parte, passeatas invadindo as ruas, brigas e apostas fedendo a chifre queimado, Seu Chico Pereira arma seu palanque em frente a matriz, os oradores falam, o filho de Seu Chico, Aércio Pereira, faz candente discurso e então Seu Chico se manifesta, pedindo a palavra:
– Agora é eu!
Aércio, letrado e falante, corrige o pai:
– Agora é eu não, pai, agora sou eu.
Seu Chico não concorda:
– Agora é eu sim, porque você já falou.