TIÃO LUCENA
1 – Foi num sábado de feira como esse que o Bar de Mirabô, em Princesa, serviu de palco para a tragédia. João estava bebendo uma cerveja na companhia do pai. O bar cheio de gente dos sítios, de gente falando alto, de repente silenciou com a entrada de Antonio . Ele e a mãe dele. João ao vê-lo puxou o revólver da cintura e atirou. A mãe de Antonio interceptou a bala e caiu morta. Antonio revidou o tiro matando o pai de João, que igualmente se atirou em defesa do filho. João se refez e atirou de novo. Toinho caiu morto. João fugiu pelo beco do açougue, ganhou as pedras de Zé da Luz e, quando pulava a cerca, foi atingido nas costas pelo rifle certeiro de Liberalquino, disparado há mais de quilômetro. Tudo por causa da infidelidade da esposa do João Caminhoneiro, que nas suas ausências constantes era substituído pelo solidário e amoroso Toinho.
2 – O açougue de Batista Arruda ficava na esquina do colégio das freiras carmelitas. Nele era preparada a carne que no sábado seria vendida aos selecionados clientes do falante e brincalhão Batista. Naquela manhã ele flagrou seu empregado, exímio despencador de carne, guardando numa bolsa um roliço cupim. Chamou-o de ladrão e o empregado, de quase dois metros, respondeu com imensa facada no bucho de Batista. Furou e correu. Batista, mesmo sangrando, com o fato saindo, arrastou-se até a porta e, com uma mão segurando as tripas, usou a outra para atirar sem mira no fugitivo. A bala o alcançou no meio das costas. O quase assassino caiu, a polícia chegou e o levou para a cadeia.
3 – Era costume da Polícia invadir a feira e sair revistando as pessoas a proxura de armas. O baixinho de Jericó pulou no meio da Rua do São Roque, puxou a lambedeira de oito polegadas e disse que não a entregava. A Polícia o cercou e ele, no meio do círculo, riscava a faca no calçamento chega saía faísca. O impasse só terminou com a chegada de Seu Mano, chamado às pressas para evitar a tragédia. Com o chefe político lhe garantindo a vida, o baixinho entregou a faca e se entregou aos soldados.
4 – A mulher carregava o filho de cinco anos pela mão e atingia o paredão do Açude Velho exatamente às 6 horas da noite. Vinha da feira com seu balaio pequeno de pequenas coisas. Zé Perequeté a esperava de emboscada. E foi ali mesmo no paredão, sob as vistas da criança, que a estuprou e matou com 20 facadas. Vinte anos se passaram. Zé Perequeté descansava do almoço na rede armada na sala de sua casa, no Sítio Várzea, quando uma mão apareceu por debaixo da porta segurando um revólver. Seis tiros foram disparados, seis buracos apareceram na rede e pelos seis buracos se esvaiu a vida de Zé Perequeté.
5 – Chico de Cassimiro não gostou de perder a terceira partida seguida de pif-paf e chamou Antonio Mandaú de ladrão. O velho Antonio respondeu com uma facada nos peitos de Chico, que, levado numa cadeira para o consultório de Doutor Severiano, clamava ao velho Cassimiro Coco, seu pai e engraxate famoso da cidade: – Painho, não me deixe morrer!”
6 – Aconteceu no jogo de sinuca de Aloísio Maraba. Otilio deu uma facada na bunda de Boi porque Boi o chamou de pé torto. Otílio era aleijado. Furou e fugiu. Boi, de bunda furada, foi levado para o Hospital São Vicente para ser costurado por Doutor Zezito. No mesmo sábado, finzinho de tarde, Chico Caitano, Tio de Boi, entrou triunfalmente em Princesa carregando Otílio na garupa do seu cavalo. Fora buscá-lo em Cachoeira de Minas, onde se escondera.
7 – Nena não era bonita, mas era jovem e carnuda. E Antonio Mandaú, já nos 60 e lá vai fumaça, se ardia de ciúmes dela. Até que Nena, não aguentando mais, anunciou o fim do romance. Antonio não se conformou e a matou . Deu-lhe mais de seis facadas. Nena ainda correu e caiu na calçada de Chico Rola, na Rua do Cancão.
8 – O delegado Mirandas ganhou fama assim que chegou ao municipio de Princesa. Seu diálogo era sempre um tabefe nas oiças do investigado. Quem o contestasse apanhava. E não foi diferente quando ouviu a contestação de Zé Nino, para que parasse de falar alto no Bar do Elizeu Catita. Deu-lhe um tapa ouvido com a mão aberta e recebeu de volta um tabefe na tábua do queixo. Foi um tabefe enorme, tão grande que fez o delegado rodar e sair catando pedra pelo calçamento, até cair na praça com o enorme bucho pra cima. Zé Nino ainda tomou a saideira e foi embora pra Escorregada.
9 – Fazia dez anos que Cabo Aristides não visitava Princesa. Chegara naquela manhã de sábado e farrava com os amigos no Bar de João França, o melhor da cidade. O bar cheio, ele na última mesa a contar da porta para o corredor dos fundos, com as costas protegidas pela parede. E ali mesmo foi surpreendido pelos disparos. Um, dois e três, todos se alojando na sua testa. Da porta de entrada Lula atirou sem mirar. E acertou os três. O cabo não morreu. O HO de Lula não tinha força suficiente para ultrapassar o osso da testa. Sangrando, Cabo Aristides correu para a porta da rua e ainda viu Lula se esquivando entre os bancos da feira. Atirou a esmo e as balas se perderam nas paredes da velha Igreja de Nossa Senhora do Bom Conselho.
10 – Valtinho de Aloísio Maraba botou na cabeça que tinha de matar Cordeiro de Manoel Lopes. Cordeiro, que não fazia mal a ninguém, ganhou a antipatia de Valtinho. Até que aconteceu. O velho sanfoneiro descansava no banco da loja de Valdemar, a cabeça baixa, o ronco do sono chegando, quando sentiu o queimor no peito.Era o tiro disparado por Valtinho . Tiro de espingarda carregada com chumbo e rolimã. Cordeiro morreu ali mesmo, no banco de Valdemar, sentado como viveu.
11 – E agora os meus abraços sabadais para Fernando Caldeira, Gilson de Severino Almeida, Arnaldo de Parajara, Bebé de Japonês,Totonho de Fofa, João de Mirô, João Duarte, Fernando Teixeira, Dedé de Genésio, Zé Nominando, Gonzaga de Jericó, Zú de Vitalina, Assis de João Braz, Sales Cordeiro, Assis Andrade e Edmundo Marrocos.
12 – Chico de Mourão contratou a pintura da casa de Marinalva. E começou a pintar naquela manhã de sábado. Lá pelas tantas chegou ao local o marido da dona da casa, que se espantou ao ver Chico em cima da escada completamente nu.
-Que é isso, Seu Chico?
-É o calor, Seu Neco.
-E por que está com a rôla dura?
– E eu vou pendurar a lata de tinta onde?