Secretaria da Cultura “mata” Vladimir Carvalho em Festival de Cinema

Miguel Lucena

Em comunicado sobre o I Festival de Cinema de Itabaiana, realizado de segunda até esta quarta-feira (06), a Secretaria de Cultura da Paraíba informou que o homenageado era o cineasta paraibano Vladimir Carvalho, radicado em Brasília desde o final dos anos 1960. A nota diz que Vladimir nasceu em 1935 e morreu aos 39 anos, só que o cineasta está vivo, tem 87 anos e mora na Capital Federal, onde se aposentou como professor da UnB.

Quem escreveu a nota e publicou no Instagram do Governo Paraíba deve ter lido superficialmente a biografia de Vladimir na Internet e se confundido com a morte do pai dele, aos 39 anos de idade.

Vladimir Carvalho é um dos cineastas mais premiados do Brasil. Ainda criança foi levado a Recife/PE, onde vive aos cuidados da tia materna, para cursar o primário. Em 1949, voltou à Paraíba e se estabeleceu em João Pessoa. Neste ano nasce seu irmão, Walter Carvalho.

Terminado o ginásio, em 1954, onde foi aluno de geografia de Linduarte Noronha, que ainda não era cineasta, e ingressou no curso clássico. Fazia um programa de rádio, Luzes do Cinema, em 1959, e colaborou na imprensa local como crítico iniciante, ganhando o apelido de Vladimir Vorochenko por conta da mania de filmes russo-soviéticos. Nesse mesmo ano Linduarte Noronha o convida para escrever o roteiro de Aruanda, do qual seria, depois, também assistente de direção, com João Ramiro Mello.

Após terminar o secundário, em João Pessoa, começou o curso universitário de filosofia na Universidade Federal da Paraíba. A fim de ir ao encontro de um dos grandes núcleos do Centro Popular de Cultura (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE), transferiu sua matrícula da faculdade para a Universidade da Bahia, em Salvador. Lá conheceu Glauber Rocha e integrou o chamado Movimento do Cinema Novo, sendo parte da vertente documentarista do movimento.

Com João Ramiro produz, em 1962, seu primeiro filme, Os Romeiros da Guia, um curta-metragem, filmado em preto e branco, com uma câmera de 35 mm. Em 1964, Vladimir é convidado por Eduardo Coutinho para ser seus assistente de direção do seu filme Cabra Marcado para Morrer (1964/1984).

Com o golpe militar de abril de 1964, Vladimir Carvalho e Eduardo Coutinho interrompem as filmagens de Cabra Marcado para Morrer e passam a viver na clandestinidade. Vladimir foi então para o Rio de Janeiro, onde foi apresentado a Arnaldo Jabor, jovem cineasta do movimento cinemanovista carioca, que o convida a ser seu assistente de direção no documentário Opinião Pública (1966), sobre a juventude da classe média carioca em tempos de regime totalitário.

Em 1967, durante o Festival de Brasília, reencontrou seu companheiro de Cabra Marcado para Morrer, o fotógrafo Fernando Duarte, que o convidou para continuar em Brasília com o objetivo de realizar o projeto do núcleo de produção de documentários do centro-oeste pela Universidade de Brasília. Vladirmir torna-se então professor da Universidade de Brasília, na qual se aposentou.

Sua obra cinematográfica é constituída por documentários que totalizam 23 títulos e vários prêmios. Fundou, em Brasília, a Associação Brasileira de Documentaristas e em 1994 criou a Fundação Cinememória, que abriga todo o seu acervo.

(Planalto em Pauta com a Fundação Getúlio Vargas).

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