TRAIÇÃO, OPORTUNISMO E MEDIOCRIDADE

EDMILSON LUCENA

A traição é um dado do jogo humano e só se desencadeia e manifesta quando a vigilância e desatenção psicológica de quem a sofre torna possível tal atropelo à saudável expectativa de retribuição do bem pelo bem. Ou seja, só somos traídos por aqueles em quem depositamos a maior confiança. Os grandes traidores estão sempre muito próximos, partilham dos nossos segredos, das nossas fraquezas, dos nossos lamentos. O traidor não é o inimigo. O traidor vive intramuros, pelo que a sua eclosão nos destrói ou magoa profundamente.

Nos nossos provérbios, locuções e frases feitas abundam as alusões ao “morder a mão que nos alimenta”, à ingratidão e à traição. Porém, a traição política desenvolve-se num outro patamar. É uma traição pública e inscreve-se num programa de ação que não coloca frente-a-frente dois seres humanos singulares, mas desvela uma inteligência e uma finalidade em que os homens não são mais que instrumentos.

O assustador de tudo isto é que, com propriedade, em política a traição é um recurso tão aceitável como a aliança, a proteção e a honestidade. Dizia Thérive que, em política, “a traição é uma questão de tempo”. A traição exige inteligência, pelo que aqueles a quem chamamos de traidores não são, por ausência de inteligência, merecedores desse apodo. São, as mais das vezes, oportunistas, arranjistas e medíocres esperando amoedar uns trocados.

O caráter deslavado da atividade política obriga a mais honesta das criaturas a trair, a desdizer-se, a gorar expectativas. Os grandes profissionais da política são, assim, excelentes traidores. Se as repercussões da traição política ultrapassam o patamar da lealdade para com os companheiros de ideal e passam para um nível superior de deslealdade para com o Estado e a sociedade, então a traição – se vitoriosa – passa a patriotismo. Fazer fé-comum com o inimigo, abrir-lhe as portas, deixá-lo tomar a nossa fortaleza, pode transformar a mais abjecta figura num patriota.

De exemplos como este está a nossa história cheia ! Lembro que o então deputado Assis Camêlo, candidato do governador da época, Tarcísio Burity, foi dormir eleito presidente da Assembléia Legislativa. Estava tudo certo, definido, decidido. No dia seguinte, Camêlo levou uma rasteira fenomenal e sofreu, talvez, a pior derrota da sua vida. Ganhou Fernando Milanez, o pai, apoiado pelo poderoso latifundiário da Várzea, Aguinaldo Veloso Borges (avô de Aguinaldo e de Daniella Ribeiro), que “comprou”, literalmente, os votos necessários à vitória do seu pupilo, pelo simples prazer de derrotar o Governo.

ASSALTO AO COFRE

Não são poucos os políticos e empresários brasileiros que se locupletam com os cofres públicos.

Deles se poderia dizer, como fez o padre Vieira, sobre os vice-governadores das Índias: “Chegavam pobres às Índias ricas e saíam ricos das Índias pobres.”

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