Operação da PF identificou como integrantes da caserna, seja na ativa, seja na reserva, planejaram e agiram para desacreditar o sistema eleitoral, por ordem de Jair Bolsonaro. Coronel que estava nos EUA voltou ao Brasil e está preso
A Polícia Federal (PF) prendeu ontem mais um militar acusado de participar da tentativa de golpe de Estado. O coronel Bernardo Romão Correa Neto cumpria missão em Washington, Estados Unidos, e desembarcou durante a madrugada no Aeroporto de Brasília. Ele estava em solo americano desde dezembro de 2022, antes da troca de governo. Correa Neto foi recebido por agentes da PF, que cumpriram a prisão e apreenderam três passaportes, sendo um de uso diplomático. O militar foi entregue logo depois à custódia da Polícia do Exército, no Batalhão da Guarda Presidencial, onde está preso desde então.
O coronel é peça central na investigação, e apontado como “homem de confiança” do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid. À época, ele ocupava o posto de assistente do Comando Militar do Sul. Diálogos entre Cid e Correa Neto mostram que o último contribuiu na disseminação de notícias falsas contra o sistema eleitoral, em ataques e pressões a militares que não aderiram à retórica golpista, e organizou uma reunião em Brasília com integrantes das Forças Especiais, os Kids Pretos, das quais também é membro, para tratar das ações que seriam tomadas no caso de consumação do golpe, como a prisão de autoridades. As investigações apontam que ele foi o responsável por intermediar os convites para o encontro, selecionando homens da força terrestre especializados em operações especiais, na atuação em ataques contra infraestrutura, como pontes e torres de transmissão de energia.
Correa Neto foi enviado a Washington, capital dos Estados Unidos, em 30 de dezembro de 2022 — mesma data em que Bolsonaro embarcou para o país — para uma missão que duraria até 2025. A Procuradoria-Geral da República (PGR) apontou que a permanência do militar no exterior por período estendido e sua partida logo antes da troca de governo “indicam que Correa Neto agiu para se furtar ao alcance das investigações e, consequentemente, da aplicação da lei penal”. Sua prisão preventiva foi determinada durante a Operação Tempus Veritatis, deflagrada na última quinta-feira. O Comando do Exército determinou seu retorno, e militares o escoltaram no voo de volta a Brasília.
Dois dos seis núcleos identificados pela PF na operação criminosa contêm Correa Neto entre seus integrantes: o Responsável por Incitar Militares à Aderirem ao Golpe de Estado e o Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas. Ou seja, seu papel envolveu constranger membros das Forças a apoiarem o golpe e assegurar a atuação das Forças Especiais. A reunião citada pelos investigadores nas acusações contra o coronel ocorreu em um condomínio de Brasília no dia 28 de novembro. O grupo seria usado na prisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes — e, possivelmente, de outras autoridades — assim que Bolsonaro decretasse um estado de sítio no país.
Após o encontro, Correa Neto mandou a Cid uma carta assinada por oficiais superiores do Exército ao então comandante da Força, general Freire Gomes, para pressioná-lo a apoiar o golpe. Ele também participou de ação para constranger os comandantes regionais que não embarcaram na tentativa, de acordo com a PGR. A investigação demonstrou ainda que o coronel atuava como representante de Cid e executava tarefas fora do Palácio da Alvorada, que o tenente-coronel não poderia cumprir por conta de seu cargo na Presidência. Correia Neto é o quarto preso no âmbito da Tempus Veritatis, junto com os ex-assessores de Bolsonaro Marcelo Câmara e Filipe Martins, e o major Rafael Martins, também integrante das Forças Especiais. O presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, também foi preso, mas pelos crimes de porte ilegal de armas e usurpação de mineral identificados durante busca e apreensão em um de seus endereços – alheios às investigações sobre a tentativa de golpe. Ele já responde em liberdade.