Bolsonaro vai a Alagoas, terra natal de Renan, para chamar o senador de “vagabundo”

Brasília — O presidente Jair Bolsonaro chamou o relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), de “vagabundo” — termo que já havia sido utilizado na véspera pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) — e disse que a comissão comete um “crime”, sem dizer qual.

A declaração ocorreu durante evento na manhã desta quinta-feira em Maceió (AL), estado natal de Renan. Bolsonaro estava acompanhado de dois adversários locais do senador: o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o senador Fernando Collor (PROS-AL).

— Não vai ser fácil. Sempre tem alguém picareta, vagabundo, querendo atrapalhar o trabalho daqueles que produzem. Se Jesus teve um traidor, temos um vagabundo inquirindo pessoas de bem em nosso país. É um crime o que vem acontecendo nessa CPI — discursou Bolsonaro.

Apesar de não ter citado o nome de Renan, o presidente repetiu o mesmo termo que seu filho Flávio usou contra o relator na quarta-feira, após Renan pedir a prisão do ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten durante seu depoimento à CPI.

O governador de Alagoas, Renan Filho, é filho de Renan Calheiros. Ao GLOBO, ele disse que não foi convidado para as agendas de Bolsonaro desta quinta — o presidente tem três compromissos no estado — e que o governo estadual já tinha inaugurado uma das obras.

No primeira agenda, uma entrega de casas, a plateia gritou diversas vezes “Renan Vagabundo” e “Fora Renan”. Bolsonaro fez gestos de incentivo aos gritos.

O presidente também disse que Renan faz um “show” na CPI quando a intenção é de lhe “derrubar”, mas disse que a tentativa não terá efeito:

— O recado que eu tenho para esse indivíduo: se quer fazer um show para me derrubar, não fará. Somente Deus me tira daquela cadeira.

Antes do discurso de Bolsonaro, Renan já havia dito, na sessão desta quinta da CPI, que o presidente fez uma “provação” ao viajar para Alagoas:

— Hoje mesmo o presidente da República foi a Alagoas inaugurar obras estaduais, numa evidente provocação a esta Comissão Parlamentar de Inquérito. A resposta a essas ofensas é aprofundar a investigação.

Mais tarde, também na sessão da CPI da Covid, Renan rebateu o discurso de Bolsonaro.

— Eu vejo na imprensa que o presidente da República embarcou para Alagoas em avião presidencial para inaugurar obra já inaugurada e para me atacar pessoalmente, como aliás fez seu filho ontem, e para atacar esta comissão parlamentar de inquérito. A minha resposta ao presidente da República é esta aqui, este número — disse Renan, apontando para a plaquinha de identificação que, em vez do seu nome, trazia o número 428.256, em referência à quantidade de mortes por Covid-19 no Brasil.

O senador governista Ciro Nogueira (PP-PI) contra-atacou:

— Vai para o palanque, vai para Alagoas. Essa comunicação não tem pertinência nenhuma.

Renan respondeu:

— Esse não é o Ciro que eu conheço e admiro.

Em publicação em sua conta no Facebook, Renan Filho afirmou que Bolsonaro demonstrou “desespero” por estar “acuado” pela CPI e “despencando em popularidade”.

“Por aqui presidente, responderemos a esse tipo de violência, com gestão resolutiva, obras com recursos próprios, contas organizadas, priorizando salvar vidas na pandemia e colocando sempre o povo acima dos interesses políticos”, escreveu o governador.

Posteriormente, nas redes sociais, Renan Calheiros postou mais uma resposta aos ataques de Jair Bolsonaro. O relator da CPI da Covid classificou as agressões como “socos no ar” e afirmou que a CPI “vai cumprir o seu papel”.

“Quero, em resposta ao presidente da república, dizer que o que nos preocupa verdadeiramente é o número de mortos que aconteceu no Brasil. São mais de 428 mil vítimas, se ele não respeita a CPI por favor pare com baixaria. Ele tem interesses e defende seus interesses próprios, nós temos uma causa. Suas agressões são socos no ar, essa comissão não vai sucumbir a isso, vai cumprir o seu papel”, declarou.

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