POR TRÁS DA CALVÁRIO II

 

POR AMANDA RODRIGUES

Cheguei em casa com Sofia e José as 21:00 hs, cantei parabéns com eles na casa de Anne, e Alana comprou um presente para as crianças me entregarem ( essa simbologia é importante para eles). Meu telefone toca, era um anjo, dizendo que alguns amigos especiais queriam me entregar um presente. Eu disse que estava quase desacordada e pedi para passar no outro dia, ele insistiu. Sofia foi pegar, era um buquê do flores e uma sacolinha de papel. Fiquei feliz, mas não consegui nem levantar a vista e ler o cartão. Apaguei.

Acordei as 5:00 hs da manhã, o choro tomava conta de mim, olhei os meninos ao meu lado, eles não sabiam de nada. Me acalmei. Levantei, olhei o cartão e senti paz, as flores eram lindas! Abri o embrulho e era ela. Nossa Senhora Aparecida. Há um ano rezo diariamente o terço da minha santinha protetora. Poxa! Aquela pequena imagem me deu uma esperança, uma força.

Deixei-a olhando pra mim e fiz uma carta, para pedir ao advogado que levasse ao presídio. Nessa carta não tinha nada demais, falava do meu dia, aquele era o primeiro dia, desde o nosso primeiro juntos que ficávamos sem nos falar. Deixei a carta no escritório, olhando para Nossa Senhora, virada na segunda página onde eu me despedia. Fui tomar banho com José e Sofia, no meu pescoço o escapulário de Ricardo. Sofia olha e pergunta: Mamãe, isso é de Tio Ricardo ou você tem um igual? Confesso que contive o choro, respirei fundo e expliquei que era dele e que ele tinha deixado comigo por um dia, que no quarto eu tinha um outro e daria pra ela ficar protegida igual a mim.

Quando terminei de me trocar, encontrei Sofia sentada, olhando a carta. Gelei. Perguntei se ela tinha lido tudo, ela disse que só o fim, que era lindo o que estava escrito e perguntou quem tinha feito, pois a letra não era a minha. Eu disse que tinha sido eu e que era para uma pessoa especial. Ela disse: Tio Ricardo.

Fui deixar meus filhos com Júnior, o pai deles, para resolver mais burocracias. Ricardo sempre ganhou presentes de artistas, as pessoas queriam agradecer toda benfeitoria promovida por ele. Em meio a esses presentes, algumas telas, umas de gente renomada como Flávio Tavares e Clóvis Júnior, outras de artistas espalhados pelo estado e até de interno do Juliano Moreira que coloquei em local de destaque na nossa sala. Acho especial alguém se curar através da arte.

Esqueci de dizer pra vocês que quando entrei em casa todas as telas estavam pelo chão , a PF queria levar na busca e apreensão, mesmo tendo em muitas a dedicatória do artista, terminaram deixando em depósito judiciário em nome do nosso advogado, mas na sexta eu não tinha tido coragem de arrumar e minhas secretárias estavam de férias.

Deixei os meninos, conversei com Eduardo, eu estava apavorada, queria saber se eles podiam fazer algo contra mim, mesmo eu não tendo feito nada e não tendo nenhum motivo para tal. Sabia que minha vida tinha sido revirada, e que se fosse possível me prender, eu seria presa.

Ele me explicou algumas questões legais, foi uma boa conversa, me emocionei várias vezes e ele mudava o assunto mostrando fotos das suas filhas. Eduardo é um excelente advogado e um grande ser humano, quer dizer, todos os que estão acompanhando Ricardo são, sempre me deram todas as explicações, me trataram com respeito, carinho e sempre tive a sensação de que eles são os nossos anjos na terra. Não os conhecia, poucos contatos por telefone, mas isso não impediu que eles me trouxessem o acolhimento que eu necessitava, e o deles era o único que me interessava.

Minha família não estava entendendo o que acontecia, e eu não tinha condições de explicar, a família de Ricardo, destruída, minhas cunhadas todas tem mais de 60 anos. Então, eu e Rico, filho mais velho de Ricardo, seguramos nossa onda e fomos em frente.

Saindo da conversa com Eduardo, fui na casa de um casal querido, que mal conhecia. Eles me receberam tão bem, me ouviram. Choramos. Eles me deram o documento que eu havia solicitado, e me deram muito mais! Um anjo, na verdade ganhei e depois o artista ficou com medo de me deixar levar, podiam achar que era crime, e sua esposa falou assim: “Você está dando um anjo pra ela, não tome. Amanda, leve seu anjo, ele vai te proteger”. Colocou dentro do meu carro e eu fui embora, resolver mais burocracia. Eu andava pra lá e pra cá, debulhando o terço de nossa senhora aparecida e levando a imagem dela e agora meu anjo, estava forte como nunca. Minha mãezinha dizendo para eu me acalmar, que tudo iria dar certo.

Fui para outra reunião, dessa vez com Anna Carla, advogada que cuida da questão familiar. Quando o elevador abriu, me deparei com uma Nossa Senhora enorme. Me arrepiei toda. Em 40 minutos o telefone tocou. Era Eduardo, visivelmente emocionado, dizendo que o HC teria sido deferido. Eu era só gratidão, me tremia. Fomos buscá-lo. Eu e Rico. Chorei ao falar com o esposo de Márcia ao telefone, mandei mensagem para os familiares dos meus amigos que estavam presos, achando que todos teriam sido soltos. Depois soube que não foram.

Nossa Senhora me mostrou que sou uma filha querida, disse que ia me dar forças, e que estaria sempre a nossa frente, pisando na cabeça de todas as serpentes. Pois mesmo livre, tudo tinha apenas começado.

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