PORQUE HOJE É SÁBADO

1 – As mulheres não querem ser assediadas no carnaval. Até apito ganharam para denunciar os enxeridos. Mas aí eu fico a pensar: como brincar carnaval sem enxerimento? Desde que o mundo é mundo, carnaval sempre foi sinônimo de enxerimento de parte a parte, de um lado e do outro, tanto do homem quanto da mulher. E esse apito, quando acionado, não será confundido com o comando do mestre de bateria da escola de samba?

2 – Ah, carnaval de velhas lembranças. A máquina fotográfica da memória me transporta aos longes de antigamente, às ruas de Princesa e seus entrudos inesquecíveis. Entrudo era a bagunça do banho de água e mela mela. Melava-se com talcos perfumados e dava-se banho com água do açude. Depois é que a bagunça substituiu o talco por maisena e farinha de trigo.

3 – Os blocos eram formados no improviso. Saía a orquestra tocando e as pessoas aderindo. Com pouco mais havia uma multidão dançando e pulando ao som de frevos e marchinhas que, de tão populares, eram cantadas por todos.

4 – Na parte da tarde desfilavam os caretas. Gente da terra se mascarava e dava um trabalho danado a identificação de cada um. Os pobres botavam máscaras improvisadas de meias com furos para os olhos. Em certo carnaval João Passarinho se mascarou com a calçola da mãe, que todos reconheceram porque, na beirada, tinha o nome dela bordado. Os caretas violentos se vestiam com capotes de frio, penduravam chocalhos na cintura e usava o chicote para amedrontar a criançada. E havia os caretas de luxo, usando fantasias de principes e reis ricamente confeccionadas pelo estilista Antonio Eugenio Bezerra.

5 – Por fim, à noite, aconteciam os bailes. No Clube Recreativo Princesense se reunia a fina flor da sociedade e o conjunto de Manoel Marrocos se encarregava da animação. Mas outros bailes menos famosos aconteciam nos bairros mais distantes, com destaque para o Cancão, que já passara o dia animado com o desfile dos Arapapacas e à noite emendava no frevo ao som do clarinete de Chico Costa e do trombone de Mourão.

6 – Um grande músico de carnavais princesenses foi Zé de Minininha. Formou o Conjunto Os Rebeldes e tocava carnavais pelo interior afora, com destaque para Tabira, a terra que o acolheu e o fez se apaixonar. Eu fazia parte do conjunto tocando o meu soprano e mais tarde o tenor. Também integravam a tropa Edmilson Lucena, Mitonho de Mourão, Zé de Bezeca, Bicudo Massaroca, Chico de Mourão, Ernani de Ulisses, Nêgo Heronildo, Nêgo Goiaba e Goguinha de Benedito de Rufina.

7 – Depois vieram os carnavais de João Pessoa. Como repórter de A União, fui escalado para cobrir os bailes do Astréa. Era um carnaval gostoso, o do Astréa, o azul e branco de Tambiá. O professor João Batista Mororó, diretor presidente do Clube, mantinha a disciplina, proibia os excessos e comandava a animação.

8 – Foi num carnaval do Astréa que apareceu pela primeira vez ao grande público um menino franzino tocando um trombone de vara. Fazia tantas piruêtas com o trombone que chamou a atenção e muitos foliões paravam para vê-lo tocar. Mais tarde ficou conhecido mundialmente como o grande músico Ranegundes Feitosa.

9 – Os bailes do Astréa terminavam sempre pela manhã. O sol nascia e os músicos ainda tocavam. E no último dia, que era a terça para amanhecer a quarta, todos saiam do clube dançando e dançando iam até a Lagoa do Parque Solon de Lucena.

10 – Não esquecer o carnaval do Cabo Branco, mais sofisticado, mais rico, mais metido a besta, mas tão importante e animado quanto o do Astréa. A cidade, porém, não ficava restrita a esses dois clubes. Tinha carnaval no Assex de Jaguaribe, no Internacional de Cruz das Armas, no Bandeirantes e na Malandros do Morro da Torre e assim por diante.

11 – E como hoje é carnaval e carnaval de lembranças boas, mando abraços para os eternos foliões Cicero Lima, Paulo Josafá, Sebastião Gerbase, João Camurça, Cardivando de Oliveira, Abelardinho Jurema,Kubi Pinheiro, Marcos Pires, Chico Franca, Ivan Bichara Filho, Tavinho Santos, Miguezim Lucena, Edson Werber, Zé Euflávio, Frutuoso Chaves, Josinaldo Malaquias, Ortilo Antonio, Vanivaldo, Coronel Euler Chaves e Humberto Lira.

12 – No baile de carnaval, o sujeito conta vantagem com o amigo:

– Cara, eu já peguei todas as mulheres que estão nesse baile! Tirando as minhas duas irmãs, claro!

– Que legal! – comenta o amigo – Comigo a exatamente o oposto!

– O oposto? Como assim?

– Até agora eu só consegui pegar as suas irmãs!

Site Footer

Sliding Sidebar

O Fuxiqueiro – Todos os direitos reservados.