1 – Hoje eu me peguei sentindo saudades dos sábados. Sábados que se foram com o tempo e que voltam à mente nesses tempos de sábados trancados em casa com medo do desconhecido. Eram sábados simples, sem muitos enfeites, mas sábados de abraços, de boas conversas, de idas e vindas, de ansiedades mil.
2 – Começava com a feira no supermercado. As mesmas caras de sempre, os mesmos “como ta tu?” dos sábados anteriores, cumprimentos aguardados durante as semanas rotineiras porque significavam o reencontro entre pessoas amigas que moravam na mesma cidade, porém raramente se encontravam.
3 – Quando o relógio anunciava as 10 horas, chegava o momento de rever Zezão e sua barraca modesta enfiada entre barracos do mercado público. Quando o dia amanhecia Zezão preparava o pau dentro, uma bebida composta de cachaça e raízes que ele jurava serem medicinais. A Turma da Manzuá se postava logo cedo nas cercanias esperando a papuda fornecida por quem pagasse. E os companheiros tradicionais, Palhano à frente, aguardavam a formação do grupo para começar os trabalhos.
4 – Zezão fazia feijão verde com maxixe dentro. Também cozinhava um guisado de carne gorda para quebrar a rotina. Não faltava o chambaril de porco e o caldinho apimentado para tirar a acidez da cachaça. E tome conversa sobre os mais importantes assuntos do momento, como o chifre levado pelo valentão da polícia ou o enfadonho discurso de sexta proferido pelo cata voto.
5 – Lá para as tantas aparecia Chico do Pandeiro com seu inseparável instrumento para acompanhar Bob de Monteiro nos seus solos magistrais de saxofone. Anacleto Reinaldo aportava perto do meio dia para engolir sua lapada de conhaque Dreher, enquanto Zé da Cagepa se encolhia um canto do balcão degustando seu vinho Carreteiro estupidamente gelado.
6 – Zezão a todos atendia e anotava os fiados, que eram muito, no surrado caderno de arame que ele guardava numa gaveta segura para evitar possíveis sequestros por parte de devedores contumazes.
7 – Esqueci de dizer que bem antes da ida a Zezão, havia o compromisso de comparecer à reunião da Feira da Torre para ouvir os aconselhamentos etílicos do profeta Paulo Mariano, contando sempre com uma platéia de ouvidos atentos.
8 – E lá iam Tadeu Florêncio, Luciano Arroz, Sebastião Gerbasi, Paulo Josafá, Emmanuel Arruda, Edmilson Lucena, Francisco das Chagas e, claro, o Tião bonitão que vos fala. Só que nessa primeira hora só se era permitido a Paulo Mariano a degustação canavieira. Os outros ficavam no cuscuz, na rabada, no bode, na costela, no picado, no porco cozido e na língua ao molho de madeira, sempre usando o copo de café com leite para ajudar na descida e na prevenção do entalos.
9 – Zezão um dia se foi, seu barraco fechou, mais tarde foi demolido pela Prefeitura. Metade da Manzuá já se dissolveu, outros componentes se incorporaram ao grupo e vivem a perambular pelos monturos da feira. Paulo Mariano também partiu para outras missões.O grupo até bem pouco tempo ainda se reunia em sua homenagem, mas agora se queda em casa com medo do mardito. Restaram as lembranças mescladas de saudades.
10 – Outro dia Renato do Funcionários II ligou para um “apareça sem ser alma”. É que ali ainda restam boêmios dos sábados antigos. Promessa que pretendo cumprir depois da quarentena, se o mardito permitir, é claro.
11 – E agora lá se vão meus abraços sabadais para Marcos Pires,Marcos Pinto, Soraya Barros, Stela Veras, Socorro Rosas , Silvio Lindolfo, Sara Ferraz, Glicério Maia, Richomer Barros, Miguel Lucena, Fabiano Barcia, Ednaldo Au Au Miranda, Carol Lima,Maria do Carmo Nunes, Severino Nunes, Joelma Muniz, Simone Maria, Elli Cordeiro, Neno de Santa Rita e Sueli Cordeiro.
12 – Final de noite o casal sai de uma festa junina, a mulher fala para o marido:
– Marido quero mijá! Olha pra lá.
– Que olha pra lá nada muié! Tô cansado de ver essa chavasca aí! Cê qué mijá, você mija.
Depois de um tempo a mulher enche o saco:
– Marido, tô com vergonha! Tão ispiando ieu lá embaijo.
– Que ispiando o que muié!
– Tão sim marido tem uma canoa lá embaixo.
– Decha di sê boba muié, ta vendo que isso não é canoa, isso ai é reflexo.