Miguel Lucena
A pretexto de impedir a iminente assunção do comunismo ao poder, uma aliança de civis com militares, em nome de Deus, da Família e da Liberdade, derrubou o governo legal e constitucional presidido pelo gaúcho João Goulart.
Fazendeiro de São Borja, Goulart nunca foi comunista. Elegeu-se vice-presidente da República, na época em que o presidente e o vice eram eleitos separadamente.
Era filiado ao PTB de Getúlio Vargas, que também nunca foi comunista nem democrático. Getúlio perdeu a eleição de 1930, encabeçou uma revolução ancorada no cadáver de João Pessoa e depois deu um golpe de Estado, a pretexto de espantar o fantasma do comunismo.
Fascista, Getúlio fortaleceu corporações chapas-brancas, copiou a legislação trabalhista de Mussolini e perseguiu adversários, torturando-os e matando-os, mas converteu-se à democracia quando percebeu que os novos ventos varreriam os nazistas e fascistas que queriam dominar o mundo nos anos 30 e 40.
Admirado pelos mais pobres, historicamente esfolados pelos devotos de todos os santos, os senhores que sempre mandaram e nunca gostaram de trabalhar, posto que trabalho manual sempre foi coisa de escravos e servos, Getúlio voltou nos braços do povo e se matou em 1954 para não ser preso e assistir ao triunfo de seus inimigos políticos e pessoais.
Esses inimigos eram liderados por Carlos Lacerda, um ex-comunista que se transformou em ícone da direita letrada e governou o estado da Guanabara.
Lacerda sonhava com a Presidência da República e vivia conspirando nas portas dos quarteis. Tentou impedir a posse de Juscelino Kubitscheck, em conluio com golpistas, mas foi repelido pelo general Lott, em 11 de novembro de 1955.
Em 1964, Lacerda, Ademar de Barros, Magalhães Pinto, Juraci Magalhães e outros líderes civis se juntaram aos militares para a derrubada de Goulart.
Até Ulisses Guimarães e Juscelino embarcaram na conversa de que o golpe seria transitório para que o perigo comunista fosse afastado e se convocassem eleições em 1965.
Assustados pelo comício das Reformas na Central do Brasil, Rio de Janeiro, realizado em 13 de março de 1964, setores mais conservadores responderam com a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, uma semana depois, no dia 19.
Nesse dia, senhores circunspectos, como Adhemar de Barros, deixaram suas amantes aborrecidas e foram caminhar de braços dados com suas senhoras. Foi na casa de uma dessas amantes que o grupo guerrilheiro de Dilma Roussef roubou um cofre com milhões de dólares oriundos da corrupção adhemarista.
Doze dias após a Marcha da Família, sem as amantes, os militares assumiram o poder e deram uma banana para alguns civis ambiciosos que sonhavam com a Presidência da República, como Lacerda e Juscelino, ambos cassados e banidos da vida pública.
Com Planalto em Pauta