PORQUE HOJE É SÁBADO

1 – O Correio da Paraíba ressurgiu em off set pelas mãos de Adalberto Barreto. Fechara por absoluta inviabilidade econômica, pois sobrevivia no linotipo quando os outros jornais, O Norte e A União, já navegavam há tempos na nova era da impressão digital. As primeiras edições saíam num papel branco, diferente dos papéis usuais. E o primeiro número esgotou em poucas horas. Trazia uma manchete escandalosa mostrando mulheres se banhando nuas na Praia do Sol.

2 – Marcone Góes, o todo poderoso dono de O Norte, sentiu a pancada. Mandou Cecílio Batista, seu repórter investigador, descobrir o que fora aquilo. Cecílio sondou, sondou, investigou, perguntou, analisou e descobriu que as moças eram quengas do cabaré Roda Viva contratadas pelo Correio para se despir na Praia do Sol.

3 – O advogado e jornalista Camilo Macedo foi a última pessoa a ver o empresário e jornalista Paulo Brandão, um dos donos do Correio, nos seus minutos finais de vida: “Era 13 de dezembro de 1984 – Havia comprado uma moto no Recife e ao retornar, já no distrito industrial de João Pessoa, observei um cidadão que vagava circulando um veículo, que parecia sinistrado. Incontinenti parei a moto, e corri em socorro das possíveis vítimas. “Mataram Dr. Paulo!”, alguém gritou. Corri pela porta direita e vi Paulo Brandão um pouco curvado para o banco do passageiro, completamente ensanguentado. Um revólver dormia numa cartucheira  pregada na perna direita. Seus óculos em aro pendiam em seu rosto, preso apenas por uma das pernas”.

4 – Foi em 1978. Transcorria a convenção da Arena que escolheria o candidato a governador em substituição a Ivan Bichara que, para tanto, indicou seu então secretário Tarcisio Burity. Antonio Mariz se rebelou, houve um princípio de guerra e os dois, Burity e Mariz, foram à disputa na convenção do partido, na Assembléia. Cada voto valia ouro. E, por valer, nem os doentes escaparam.O senador Domício Gondim estava de cama. Não andava e era transportado numa maca, emborcado, com a bunda pra cima. Quando adentrou no plenário, Rui Gouveia bradou da tribuna: “O senador Domício Gondim está entrando na Assembléia com as costas e o restante para cima.” Cortaram o som do microfone e silenciaram Rui. Vi tudo aquilo, escrevi a matéria e no dia seguinte o Correio estampou a manchete da lavra de Abmael Morais: “TRASEIRO DE GONDIM CASSA A PALAVRA DE RUI NA ASSEMBLÉIA”.

5 – Quando deixávamos a redação, continuávamos juntos, na farra. E descobrimos o endereço de Cícero Lima, dono de apartamento em Tambaú, para onde levava um timaço de belas garotas para beber, dançar e coisar. Naquela noite, depois de uns cinco copos de Ron com coca, Toinho Costa se abufelou com uma morena do Castelo Branco e passou a noite em plena atividade com ela, na sala mesmo, em cima do tapete. Quando o dia amanheceu e as meninas já tinham partido, ele, com cara de feliz, confessou: -Aquela morena era cabeço, e dos mais acochados. Imagina tu que amanheci com a cabeça da rola toda esfolada, tão apertada era a morena.” Cícero, depois da gaitada espalhafatosa que o caracterizava, botou água no chopp do apaixonado: “Tu passasse a noite toda comendo o tapete, abestalhado!”

6 -Em 82 eu cai na besteira de anunciar meu apoio a Antonio Mariz, que disputava o Governo com Wilson Braga. Fiz artigos, participei de comícios, fiz raiva a muita gente. E no final, deu Braga. Eu trabalhava no Correio da Paraíba, era secretário de redação. Gozava de certo prestígio, mantinha coluna assinada no jornal, participava do programa de Luiz Otávio, até fã-clube eu tinha. Mas assim que as urnas disseram que Wilson Braga era governador, a coisa mudou. Foi triste a cena. Chegava ao Correio para o expediente, na sala um circunspecto Bosco Gaspar e um desconfiado Luiz Otávio me esperavam. Antes de qualquer bom dia, Bosco deu a novidade: “Passe no setor de pessoal para receber sua indenização. Você está demitido”.

7 – Pelo menos dois jornalistas do Correio apanharam por causa dos seus escritos. O primeiro foi Heitor Falcão. Irônico, ferino, escrevia com uma garrafa de rum ao lado da mesa. Era um parágrafo e um gole, seguido de uma profunda tragada no cigarro. Heitor falou mal do prefeito Damásio Franca, repetiu a dose três vezes e os filhos de Seu Damásio, que idolatravam o pai, pegaram-no de jeito, deram-lhe uma surra e deixaram-no moído de pau na Barreira do Cabo Branco. O outro foi Nonato Guedes, exímio articulista de Cajazeiras, que escrevia no espaço antes ocupado por Madruguinha. Ele chamou Seu Damásio, prefeito nomeado por Burity, de Odorico Paraguassu. Os meninos, comandados por Neto Franca, deixaram Nonato mais torto do que era. Foi uma pisa e tanto.

8 – O jornalista Toinho Vicente viveu a sua vida profissional no Correio. Gostava de um mé e sempre que podia, retornava ao Piancó de suas origens para matar saudades e cair na farra. Numa dessas idas, chamou a turma para uma serenata e, em plena festa apareceu o delegado, que havia proibido esse tipo de boemia na cidade. “Todo mundo pra casa! Ou será que falei grego quando disse que depois das 10 da noite ninguém podia permanecer na rua?” Toinho, com o olho esquerdo fechando por conta do álcool, pediu uma data vênia ao delegado e indagou, solene: -Senhor tenente, será que eu posso, quando chegar em casa, me deitar e ficar com os olhos abertos?”

9 – Rubens Nóbrega foi o mais eficiente e destemido editor do Correio da Paraíba. Sozinho aguentou o tranco da morte de Paulo Brandão. Redigiu todos os textos da investigação da morte, até chegar aos matadores e mandantes. Foi a época dos atentados, do terror, das jornadas de trabalho movidas a revólveres em cima dos birôs para enfrentar a chegada dos pistoleiros. O magro Sitônio com seu trabuco de metro e meio, o feioso Euflávio trazendo no sangue o cangaceirismo de Santana dos Garrotes e o velho Rubens comandando o navio.

10 – Conversava com meu primo Joaquim de Mãe D ´água, de saudosa memória, e ele, após ingerir uma bicada de cana, contou que certa vez participara de uma reunião onde se encomendava a minha morte. Ele era pistoleiro. Na reunião, o patrão dizia como encontrar o jornalista que deveria morrer. E dava as dicas de endereço e de aparência.”Esse jornalista seria por acaso Tião Lucena de Princesa?”, perguntou ao chefe. E diante da resposta afirmativa, Joaquim encerrou o assunto: “Pois ele é meu primo. E se ele morrer eu vou ter que matar o senhor”. E eu terminei ficando vivo.

11 – E agora lá se vão meus abraços sabadais para Rubens Nóbrega, Agnaldo Almeida, Frutuoso Chaves,Pessoa Filho, Zé Carlos Valaque, Toinho Vicente, Zé Euflávio, Sitônio Pinto, Humberto Lira, Zé Fernandes, Land Seixas, Sony Lacerda, Madrilena Feitosa, Marcela Sitônio, Geordie Filho, João Costa,Ruy Dantas, Zé Ayres de Oliveira, Vinicius Henriques, Camilo Macedo e Fabiano Gomes.

12 – O radialista Maurício Alves foi escalado por Antonio Malvino para cobrir o enterro do senador Humberto Lucena. Quando a comitiva chegou ao cemitério Senhor da Boa Sentença e foi parada para que os cadetes da Polícia Militar prestassem uma homenagem disparando salvas de tiros, Maurício chamou de lá: – Malvino, neste momento o corpo do senador Humberto Lucena está sendo recebido a bala no cemitério.

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